Quem é quem nas eleições do Peru, que deve terminar com embate entre sindicalista e fujimorista

Parciais colocam Pedro Castillo, do Peru Livre, como primeiro colocado; ele deve enfrentar Keiko Fujimori ou outro nome da extrema-direita no segundo turno

Pedro Castillo e Keiko Fujimori | Montagem
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A pesquisa de boca de urna divulgada pela Ipsos na noite de domingo (11) surpreendeu por trazer um "azarão" como primeiro colocado. O professor e sindicalista Pedro Castillo, do Peru Livre - identificado com o marxismo-leninismo -, aparece na liderança do levantamento, da contagem rápida divulgada do mesmo instituto e nos números parciais do Escritório Nacional de Processos Eleitorales (ONPE). Enquanto ele parece estar com a vaga garantida, a disputa pela segunda vaga está intensa.

Com 74% das urnas contabilizadas, Castillo lidera com 17,9%. Na sequência aparecem Keiko Fujimori, do Ação Popular, com 13,17%; Hernando de Soto, do Avança País, com 12,51%; e Rafael López Aliaga, do Renovação Popular, com 12,31%. Os demais candidatos somam menos de 10% até o momento.

É possível dizer que um desses três deve enfrentar Castillo no segundo turno. O trio tem sido apontado como herdeiro do fujimorismo nesse pleito "hiperfragmentado".

Levantamento da Ipsos de contagem rápida de 100% das urnas aponta para um segundo turno entre Castillo, que deve fechar com 18,1%, com Keiko, que deve marcar 14,5%. López Aliaga marca 12,2% no levantamento e De Soto, 10,7%.

Quem é quem?

Pedro Castillo

O líder das pesquisas, professor na província de Cajamarca, ganhou projeção no Peru quando liderou a greve nacional de docentes de 2017, que paralisou as aulas por três semanas exigindo melhores condições para profissionais de educação. Entre as suas principais propostas está a de convocar uma Assembleia Constituinte com o objetivo de derrubar a candidatura do ex-ditador Alberto Fujimori. O programa do Peru Livre prevê o abandono do neoliberalismo e a construção de uma "Economia Popular com Mercados", com um forte papel do Estado, além da estatização de reservas. Apesar disso, ele é visto com cautela por alguns setores da esquerda peruana.

Keiko Fujimori

Enquanto Castillo busca derrocar a herança fujimorista, Keiko é a filha do ex-ditador, que está preso pelo cometimento de crime de lesa humanidade. A candidata, que defende um governo "linha dura", é investigada por possível participação em propinas da Odebrecht. Ela chegou a ser presa preventivamente em 2018. Durante a campanha ela tentou exaltar o "legado" do pai.

Rafael López-Aliaga e Hernando de Soto

O movimento "Não a Keiko", lançado nas eleições de 2017 - quando ela foi derrotada por Pedro Paulo Kucinski por menos de 1% dos votos no segundo turno -, nesse pleito decidiu ampliar o leque e puxou um "Não às 3 Keikos". Além da própria, entram na lista López-Aliaga e De Soto.

Enquanto Aliaga tenta encarnar um "Bolsonaro peruano", com uma adesão ao ultraconservadorismo, De Soto vai pelo caminho do ultraliberalismo econômico. Em entrevista à Fórum, na segunda-feira (5), o sociólogo Raul Nunes, pesquisador do Núcleo de Estudos de Teoria Social e América Latina (NETSAL) do IESP-UERJ, disse que os dois fazem Keiko até parecer "moderada".

De Soto defende um estado mínimo, preside o Instituto de Libertade e Democracia e tem proximidade com o Instituto Mises Brasil.

Já Aliaga, é membro da Opus Dei, celibatário e empresário do ramo ferroviário. Apesar da proximidade ideológica, Aliaga já tem se posicionado nas redes contra um apoio a Keiko em um eventual segundo turno contra Castillo.

Pulverização

Essa pulverização na eleição peruana já vinha sendo apontada em pesquisas anteriores. Para Nunes, isso é reflexo da crise política que o país vive desde 2016, quando o fujimorismo perdeu as presidenciais, mas ficou com a maioria do Congresso. “O fujimorismo buscou desde o início desestabilizar a presidência de Pedro Pablo Kuczynski. A Lava Jato peruana foi um catalisador da crise, e envolveu a investigação, prisão e até suicídio das figuras mais importantes da política nacional”, declarou o sociólogo.

“Com a queda de PPK, o recém-empossado Martin Vizcarra investiu contra o Legislativo, forçando a agenda lavajatista anticorrupção. A instabilidade aumentou e o Congresso ficou visto como sabotador, enquanto o presidente cravava altos níveis de aprovação, até ser derrubado pelos congressistas em novembro passado. O que as gigantescas manifestações que se seguiram demonstraram foi um rechaço enorme aos políticos como um todo, e acredito que é isso que move o alto nível de não-voto e a dificuldade dos candidatos em conseguir apoio”, avaliou.

Fórum América Latina

O Fórum América Latina vai receber ao vivo o sociólogo Raul Nunes para comentar sobre o resultado das eleições do Peru. A jornalista e ativista Nathália Urban também integra a bancada. O programa comenta também sobre as eleições do Equador.

https://www.youtube.com/watch?v=OqKevehrzyk