Senado dos EUA começa a julgar impeachment de Trump nesta terça-feira

Ex-presidente e ídolo de Jair Bolsonaro é acusado de incitar a invasão do Capitólio, e a sentença poderia enterrar seus planos de voltar à Casa Branca em 2025

Trump em discurso a apoiadores (Reprodução)
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O futuro político de Donald Trump começa a ser decidido nesta terça-feira (9), quando terá início a segunda fase do processo de impeachment que o ex-presidente responde.

O magnata é acusado de incitar os movimentos de extrema-direita que o apoiam a invadir o Capitólio, sede do Poder Legislativo estadunidense, em ação que ocorreu no dia 6 de janeiro, quando estava marcada a sessão conjunta entre a Câmara e o Senado que oficializou a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais de 2020 – e, consequentemente, a derrota de Trump em sua tentativa de se reeleger para um segundo mandato.

A principal evidência contra Trump é um vídeo que ele divulgou em suas redes sociais no mesmo dia 6 de janeiro, no qual ele aparece fazendo um discurso em Washington para seus seguidores, dizendo que iria insistir em não reconhecer a vitória de Biden, e defender sua tese de que teria havido fraude na apuração.

Foi depois dessa declaração que a multidão seguiu até o Capitólio e realizou os atos que interromperam a sessão de oficialização dos resultados eleitorais, a qual só foi retomada horas depois, após a segurança expulsar os manifestantes trompistas, que chegaram a roubar objetos do prédio.

Um dos manifestantes presos, conhecido como Jake Angeli (seu verdadeiro nome é Jacob Anthony Chansley), pode ser crucial durante o julgamento. Ele foi uma das figuras que simbolizou a invasão, nas fotos em que aparece sem camisa, com a cara pintada e um adorno na cabeça com chifres e pele de bisonte, além de tatuagens com alusões a movimentos de extrema-direita.

Em entrevista recente, seu advogado, Albert Watkins, disse que ele se considera “traído” pelo ex-presidente Trump, que não o indultou após a invasão. Também afirmou que está disposto a testemunhar no julgamento, e reconhecer que o ex-presidente “foi o responsável pelos atos do dia 6 de janeiro, devido aos seus discursos desenhados para inflamar, enfurecer, motivar” a ele e outros apoiadores.

Na primeira fase do julgamento, na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Trump foi considerado culpado 232 votos contra 197. O julgamento no Senado pode durar alguns dias, e até semanas, segundo a imprensa local. Aliás, este não é o primeiro processo de impeachment que o magnata enfrenta. Em 2020, quando foi acusado de usar sua influência sobre o presidente da Ucrânia para atacar um filho de Joe Biden, ele terminou sendo absolvido no Senado, em processo que durou três semanas.

Neste caso, a imprensa local acredita que o trâmite durará menos tempo. A defesa de Trump alega que nenhuma das palavras usadas por Trump no discurso daquele mesmo dia 6 de janeiro falava em invadir o Capitólio. A promotoria, por sua parte, afirma que a invasão foi provocada pelo discurso de Trump de desconhecer o resultado oficial das eleições, postura que o ex-presidente mantém até hoje.

Caso Trump seja considerado culpado pelo Senado, ele não sofrerá punição imediata, pois já não ocupa mais o cargo de presidente dos Estados Unidos. Porém, essa decisão abrirá um novo julgamento, para avaliar se essa condenação deve gerar uma cassação dos direitos políticos do empresário, ou seja, ele se tornaria inelegível, talvez para sempre, ou por um período a ser determinado.

Após sair da Casa Branca, Trump já iniciou seu projeto para retornar ao poder em 2025, algo que seria enterrado no caso de perder seus direitos políticos.

Em todo caso, outra questão é que a primeira decisão é bem mais difícil que a segunda. Para determinar que Trump é culpado em um processo de impeachment como este, é preciso dois terços dos votos. Como o Partido Republicano (o mesmo do ex-presidente) tem maioria na câmara alta), se considera muito difícil se alcançar esse patamar, apesar de haver um setor da legenda, ligado ao ex-presidente George W. Bush, que estaria inclinado a essa posição. Porém, caso essa improvável condenação aconteça, a segunda etapa é bem mais fácil: o processo seguinte, sobre retirar ou não os direitos políticos de Trump, requer uma maioria simples para ser aprovado, e no caso de um empate, o voto decisivo será da presidenta do Senado, que não é outra senão a vice-presidenta Kamala Harris.