Em entrevista ao Fórum Onze e Meia, a escritora e jornalista especializada na cobertura do Afeganistão e Oriente Médio Adriana Carranca revelou que “os Talibã nunca saíram do Afeganistão” e que desde 2012 eles já controlavam 80%” do território afegão.
Por conta do controle que o Talibã já exercia sobre o território do Afeganistão, Carranca conta que o então presidente do país, Hamid Karzai, era classificado como o “prefeito de Cabul”, pois, a capital afegã ainda era a única região que ainda não estava sob o controle do grupo extremista. "A única novidade é a retomada oficial do poder", constata.
Logo depois que o Talibã tomou o palácio presidencial, voltaram a circular pelas redes fotos com mulheres afegãs usando saias. Carranca comenta que "mesmo na época mais pacífica (1978-1992) a maioria das mulheres usavam burca, uma ou outra adotava uma moda ocidentalizada".
Outra questão abordada pela escritora são as mudanças que a ocupação dos EUA levou ao país (2001-21). "O que a ocupação americana mudou realmente é que, no rastro dos EUA toda a comunidade internacional desembarcou no país. Todos os países estavam ali. Muitos jovens migram pra Cabul em busca de emprego. Então, nós temos uma geração que nasceu sob a guerra e a ocupação, mas que também teve contato com estrangeiros e acesso a internet. Esses vão sentir mais o retorno do Talibã ao poder", analisa.
A jornalista também chama atenção para um fato que não tem sido abordado na cobertura massiva sobre o Afeganistão: quando explodiram as revoluções árabes, "a atenção dos organismos internacionais se voltou para o Egito e outros países, eles foram embora e junto com isso os investimentos diminuíram. A população afegã já se sente abandonada há muito tempo".
Governo moderado?
Desde que tomaram o Palácio Presidencial, alguns líderes do Talibã têm dito em entrevistas que o novo governo deles será mais moderado e que contará com mulheres em seus quadros. Porém, Carranca afirma que, pelos nomes divulgados, é difícil acreditar, pois o alto escalão do futuro governo do Afeganistão será composto pela velha guarda do grupo, que são radicais e ultraconservadores.
"A população não acredita em governo moderado, as meninas estão com medo de sair de casa, a maior parte das ruas estão vazias, pois as pessoas estão com medo de sair", pontua Adriana Carranca, autora autora dos livros-reportagem O Irã sob o chador (editora Globo), O Afeganistão depois do Talibã (Civilização Brasileira) e Malala, a menina que queria ir pra escola (Companhia das Letras).
Confira abaixo a entrevista na íntegra: