Trump implorou ao presidente da China para ajudá-lo em sua reeleição, revela Bolton

O ex-conselho da Casa Branca, John Bolton, acaba de lançar um livro onde revela vários segredos da política exterior dos EUA; obra caiu como uma bomba sobre a administração Trump

Xi Jinping e Donald Trump (foto: Xinhua)
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Donald Trump pediu ao presidente chinês Xi Jinping para comprar produtos agrícolas dos Estados Unidos, pois dessa forma o ajudaria a conquistar votos nos estados com forte indústria agrícola nas eleições de 2020, afirma John Bolton no livro The Room Where It Happened: A White House Memoir (A sala onde aconteceu: memórias da Casa Branca).

Bolton escreve que Trump chegou a "implorar a Xi para ajudá-lo a garantir que ele vencesse" as próximas eleições. "Ele enfatizou a importância dos agricultores e aumentar as compras chinesas de soja e trigo seria importante para influenciar o resultado eleitoral", diz Bolton, em trecho da obra publicado no The Wall Street Journal.

John Bolton foi conselheiro especial da Presidência dos EUA em 2018 e 2019, e acompanhou o presidente Trump em diversas reuniões. "As conversas de Trump com Xi refletiram não apenas a incoerência em sua política comercial, mas também a confusão na mente de Trump em relação a seus próprios interesses políticos e os interesses nacionais dos EUA", escreve Bolton.

O ex-conselheiro também faz críticas na área de segurança: "Trump misturou o pessoal e o nacional não apenas em questões comerciais, mas em todo o campo da segurança nacional".

O livro tem relatos de vários encontros e eventos internos da Presidência. E ainda traz novos detalhes sobre o que aconteceu na Casa Branca durante os esforços de Trump para pressionar a Ucrânia a entregar informações sobre o ex-vice-presidente dos EUA, Joe Biden, rival de Trump em 2020. Esse foi o tema que levou Trump a um processo de impeachment no Congresso, mas que foi derrubado pelo Senado.

Bolton: Trump acha que Guaidó é fraco

O ex-conselheiro da Casa Branca conta também que foi ele quem levou a proposta para Donald Trump passar a reconhecer o deputado Juan Guaidó, então presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, como presidente interino do país.

Embora Trump tenha aprovado a proposta, segundo Bolton, dentro de 30 horas o presidente dos EUA já estava preocupado com o fato de Guaidó parecer fraco como uma "criança" se comparado ao presidente Nicolás Maduro, considerado "resistente" por Trump. O mandatário estunidense estava considerando mudar de rumo na política para a Venezuela.

Bolton descreveu Trump como inconsistente e preocupado quando decidiu apoiar Guaidó, em janeiro de 2019. Depois disso, Trump teria dito que invadir a Venezuela seria "legal" (cool, em inglês) e que a nação sul-americana era "realmente parte dos Estados Unidos".

Ainda sobre Guaidó, Bolton conta que, em uma teleconferência de maio de 2019, entre Trump e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o líder russo teria comparado Guaidó à candidata democrata dos EUA, Hillary Clinton. Para Bolton, foi “uma brilhante exposição da propaganda política ao estilo soviético”. Bolton escreve que os argumentos de Putin "convenceram amplamente Trump".

O presidente Donald Trump entrou com um processo na Justiça, esta semana, para impedir o lançamento do livro. Apesar da briga judicial, o lançamento está previsto para o próximo dia 23 de junho e a obra estará disponível no site de vendas Amazon pelo valor de U$ 3,99 (R$ 21).

Para promover a publicação, a editora enviou trechos aos meios de comunicação e Bolton deu várias entrevistas sobre o tema. As revelações foram publicadas em todos os grandes meios dos Estados Unidos nessa quarta-feira (17).

Saída de Bolton do governo

A Casa Branca demitiu John Bolton em setembro de 2019 devido a diferenças que tinha com o presidente na visão sobre a política externa dos EUA. Entre as principais discordâncias estava justamente a Venezuela.
“Discordo de John Bolton nas suas atitudes em relação à Venezuela. Acho que ele passou dos limites e eu provei estar certo", disse Trump a repórteres na Casa Branca após o anúncio da demissão. No entanto, Bolton insiste que foi ele quem pediu demissão.