Vergonha mundial: Governo Bolsonaro trava negociações da ONU sobre biodiversidade

Reportagem do The Guardian revela que estratégia do Brasil, que suspendeu as negociações sobre o Meio Ambiente na ONU, é comparada à da Arábia Saudita, maior produtor de petróleo do mundo, para atravancar debate sobre as mudanças climáticas

Bolsonaro e o incêndio na Floresta Amazônica (Foto: Montagem)Créditos: Presidência da República / Twitter
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Reportagem de Jonathan Watts, no site britânico de notícias The Guardian, revela que o Brasil está passando uma vergonha mundial ao ser acusado de travar as negociações da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a biodiversidade.

Seguindo as diretrizes de Jair Bolsonaro - que acusa Organizações Não Governamentais (ONGs) e governos estrangeiros de interferência na política ambiental, enquanto trabalha para liberar terras no Pantanal e Amazônia para a agricultura, mineração e exploração madeireira -, a diplomacia brasileira, liderada por Leonardo Athayde, diretor do departamento de Meio Ambiente do Itamaraty, apresentou uma objeção na última quinta-feira (19) que suspendeu as negociações da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB).

Segundo o The Guardian, o governo Bolsonaro se opõe a negociações online, alegando que nações mais pobres ficariam em desvantagem por problemas de conectividade. A alegação, no entanto, é rechaçada pela maioria dos países, que se apressam para construir uma pauta de proteção ambiental para a próxima conferência, prevista para maio de 2021, em Kunming, China, já que a reunião desse ano foi suspensa devido à pandemia.

“Temos que pensar no Brasil como a Arábia Saudita na CDB em relação ao que estão dispostos a fazer para mostrar seu ponto de vista, sua abordagem radical e sua estratégia destrutiva. Eles estão mostrando que são um jogador formidável tentando levar Kunming em uma direção negativa”, disse Li Shuo, assessor de políticas do Greenpeace na China, comparando o Brasil ao país árabe, maior produtor de petróleo do mundo, que prega boicotes para atrasar as negociações sobre o clima.

"Esta é uma estratégia deliberada para evitar negociações sobre novos alvos para a natureza. Embora compartilhemos as preocupações sobre os desafios técnicos para alguns países e observadores realizarem reuniões on-line de forma consistente, não esquecemos os esforços anteriores do governo de Bolsonaro para limitar a participação da sociedade civil nas negociações da CDB, então, para nós, é difícil acreditar que a diplomacia do Bolsonaro está defendendo a inclusão”, afirmou Oscar Soria, diretor de campanha do site de ativismo Avaaz.

O representante diplomático brasileiro reagiu dizendo que as acusações são "injustas".

“Eu rejeito categoricamente essas acusações. Eles são uma descrição completamente injusta e deletéria. Não estamos obstruindo o processo de forma alguma ”, disse de Athayde.