Candeia: o lendário compositor da mais linda composição de Cartola foi policial, sambista e boêmio
Uma das músicas mais famosas do Brasil tem um compositor quase desconhecido pelo grande público, sua história é cheia de reviravoltas
Poucos nomes na história da música brasileira carregam tanta força e sensibilidade quanto Candeia. Apesar de ser um dos maiores compositores de samba de todos os tempos, sua figura ainda é pouco conhecida fora dos círculos mais apaixonados pelo gênero.
Sua trajetória foi marcada por reviravoltas, luta, dor e amor ao samba, e sua obra ecoa até hoje na voz de artistas como Cartola, Paulinho da Viola e tantos outros que ajudaram a moldar o som do Rio de Janeiro.
Da farda ao batuque: o policial que virou sambista
Nascido em 1935, no bairro de Bento Ribeiro, Antônio Candeia Filho cresceu cercado por música. Seu pai era um dos fundadores da escola de samba Portela, e o menino logo se encantou pelo ritmo e pela poesia dos morros cariocas.
Antes de se dedicar totalmente à música, Candeia chegou a ser policial civil — uma das muitas contradições que marcaram sua vida. Ainda assim, seu coração sempre bateu no compasso do samba. Foi nessa época que começou a compor letras que uniam lirismo, crítica social e amor pelo povo negro e pela cultura popular.
Em 1965, sua vida mudou de forma trágica. Durante uma abordagem policial, Candeia foi baleado e ficou paraplégico. O episódio poderia ter encerrado sua trajetória, mas se transformou em um renascimento artístico.
A partir daí, mergulhou de vez na música, tornando-se um dos mais profundos letristas do samba moderno.
De sua cadeira de rodas, Candeia compôs alguns dos versos mais emocionantes do gênero — entre eles, “O Mar Serenou”, “Testamento de Partideiro” e “Preciso Me Encontrar”, imortalizado na voz de Cartola.
Um samba de consciência e identidade
Mais do que um compositor, Candeia foi um pensador do samba. Preocupado com a descaracterização das escolas de samba e com a perda das raízes negras da cultura carioca, fundou em 1975 o Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo, um projeto cultural que resgatava o samba como expressão política e ancestral.
Suas letras abordavam temas como resistência, orgulho, espiritualidade e liberdade, muito antes dessas pautas se tornarem comuns na música popular brasileira.
O legado eterno de um sambista imortal
Candeia morreu jovem, em 1978, aos 43 anos, mas deixou uma obra que atravessou gerações. Seu samba não era feito apenas para o carnaval — era feito para pensar o Brasil.
Hoje, ele é lembrado como um dos maiores poetas da música brasileira, um homem que transformou dor em arte e que ajudou a redefinir o samba como forma de resistência cultural.
Confira: