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Ele venceu as cruzadas. Unificou uma das maiores religiões do mundo. E virou um herói para sempre

Um dos maiores líderes militares da história é quase totalmente desconhecido no ocidente, mas foi responsável por reconquistar Jerusalém e pacificar as relações cristãs-muçulmanas

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Historiadora e professora, formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Escreve sobre história, história politica e cultura.
Ele venceu as cruzadas. Unificou uma das maiores religiões do mundo. E virou um herói para sempre
Gravura representando uma vitória militar de Saladino datada do século XIX. Wikipédia

Entre os grandes nomes da Idade Média, um se destaca por sua coragem, inteligência estratégica e senso de justiça: Salah ad-Din Yusuf ibn Ayyub, mais conhecido no Ocidente como Saladino. Nascido em 1137 (ou 1138) na cidade de Tikrit, na Mesopotâmia — atual Iraque —, Saladino cresceu em uma época de intensos conflitos entre o mundo cristão e o islâmico.

Criado em uma família curda de militares, ele foi educado nas tradições do Islã sunita e se destacou desde cedo como um estrategista habilidoso e um homem de fé profunda. Seu talento o levou a servir sob o comando de seu tio Shirkuh, general a serviço do poderoso governante sírio Nur ad-Din.

A ascensão ao poder no Egito

Após a morte de Shirkuh, em 1169, Saladino assumiu o posto de vizir do Egito, então sob domínio do califado xiita fatímida. Com apenas 31 anos, ele iniciou um processo de transformação política e religiosa: substituiu gradualmente a influência xiita pela doutrina sunita, reunificando a região sob o estandarte do Islã sunita.

Em 1171, proclamou o fim do califado fatímida e tornou-se o primeiro sultão do Egito e da Síria, fundando a dinastia aiúbida, que governaria grande parte do Oriente Médio por quase um século. Sua liderança unificou povos árabes e curdos, que até então estavam divididos, e lhe rendeu prestígio em todo o mundo islâmico.

O confronto com as Cruzadas

Saladino é mais lembrado no Ocidente por seu papel nas Cruzadas, especialmente na Terceira Cruzada (1189–1192). Em 1187, ele obteve uma das maiores vitórias da história militar medieval ao derrotar o exército cruzado na Batalha de Hattin, retomando Jerusalém das mãos cristãs — cidade que havia sido conquistada quase um século antes, em 1099.

Apesar da violência das guerras, Saladino ficou conhecido até entre seus inimigos por sua clemência e humanidade. Ao reconquistar Jerusalém, ele poupou civis, permitiu que muitos cristãos permanecessem na cidade e garantiu passagem segura aos que desejavam partir — um gesto incomum em tempos de guerra santa.

Saladino e Ricardo Coração de Leão

Durante a Terceira Cruzada, Saladino enfrentou o rei inglês Ricardo Coração de Leão, um dos mais renomados cavaleiros cristãos da época. O confronto entre os dois se tornou lendário. Embora tenham permanecido como inimigos no campo de batalha, relatos medievais descrevem que ambos mantinham respeito mútuo e chegaram a trocar presentes e correspondências diplomáticas.

O conflito terminou com um acordo de trégua, em 1192, que permitiu o acesso pacífico de peregrinos cristãos a Jerusalém — uma solução que refletia o equilíbrio e a sabedoria política de Saladino.

Moeda com o rosto de Saladino
(foto: wikipédia)

O legado de um herói árabe

Saladino morreu em 1193, em Damasco, aos 55 anos, deixando um império unificado e uma reputação que ultrapassou fronteiras. No mundo islâmico, é lembrado como um herói da fé, símbolo de justiça e unidade. Já no Ocidente, com o passar dos séculos, tornou-se uma figura admirada até por seus antigos adversários — um exemplo de honra e cavalheirismo em meio à brutalidade das guerras medievais.

Hoje, seu nome batiza ruas, monumentos e até universidades em países árabes, e sua história continua a inspirar livros, filmes e séries que revisitam a complexa relação entre o Oriente e o Ocidente durante as Cruzadas.

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