Ele venceu as cruzadas. Unificou uma das maiores religiões do mundo. E virou um herói para sempre
Um dos maiores líderes militares da história é quase totalmente desconhecido no ocidente, mas foi responsável por reconquistar Jerusalém e pacificar as relações cristãs-muçulmanas
Entre os grandes nomes da Idade Média, um se destaca por sua coragem, inteligência estratégica e senso de justiça: Salah ad-Din Yusuf ibn Ayyub, mais conhecido no Ocidente como Saladino. Nascido em 1137 (ou 1138) na cidade de Tikrit, na Mesopotâmia — atual Iraque —, Saladino cresceu em uma época de intensos conflitos entre o mundo cristão e o islâmico.
Criado em uma família curda de militares, ele foi educado nas tradições do Islã sunita e se destacou desde cedo como um estrategista habilidoso e um homem de fé profunda. Seu talento o levou a servir sob o comando de seu tio Shirkuh, general a serviço do poderoso governante sírio Nur ad-Din.
A ascensão ao poder no Egito
Após a morte de Shirkuh, em 1169, Saladino assumiu o posto de vizir do Egito, então sob domínio do califado xiita fatímida. Com apenas 31 anos, ele iniciou um processo de transformação política e religiosa: substituiu gradualmente a influência xiita pela doutrina sunita, reunificando a região sob o estandarte do Islã sunita.
Em 1171, proclamou o fim do califado fatímida e tornou-se o primeiro sultão do Egito e da Síria, fundando a dinastia aiúbida, que governaria grande parte do Oriente Médio por quase um século. Sua liderança unificou povos árabes e curdos, que até então estavam divididos, e lhe rendeu prestígio em todo o mundo islâmico.
O confronto com as Cruzadas
Saladino é mais lembrado no Ocidente por seu papel nas Cruzadas, especialmente na Terceira Cruzada (1189–1192). Em 1187, ele obteve uma das maiores vitórias da história militar medieval ao derrotar o exército cruzado na Batalha de Hattin, retomando Jerusalém das mãos cristãs — cidade que havia sido conquistada quase um século antes, em 1099.
Apesar da violência das guerras, Saladino ficou conhecido até entre seus inimigos por sua clemência e humanidade. Ao reconquistar Jerusalém, ele poupou civis, permitiu que muitos cristãos permanecessem na cidade e garantiu passagem segura aos que desejavam partir — um gesto incomum em tempos de guerra santa.
Saladino e Ricardo Coração de Leão
Durante a Terceira Cruzada, Saladino enfrentou o rei inglês Ricardo Coração de Leão, um dos mais renomados cavaleiros cristãos da época. O confronto entre os dois se tornou lendário. Embora tenham permanecido como inimigos no campo de batalha, relatos medievais descrevem que ambos mantinham respeito mútuo e chegaram a trocar presentes e correspondências diplomáticas.
O conflito terminou com um acordo de trégua, em 1192, que permitiu o acesso pacífico de peregrinos cristãos a Jerusalém — uma solução que refletia o equilíbrio e a sabedoria política de Saladino.
(foto: wikipédia)
O legado de um herói árabe
Saladino morreu em 1193, em Damasco, aos 55 anos, deixando um império unificado e uma reputação que ultrapassou fronteiras. No mundo islâmico, é lembrado como um herói da fé, símbolo de justiça e unidade. Já no Ocidente, com o passar dos séculos, tornou-se uma figura admirada até por seus antigos adversários — um exemplo de honra e cavalheirismo em meio à brutalidade das guerras medievais.
Hoje, seu nome batiza ruas, monumentos e até universidades em países árabes, e sua história continua a inspirar livros, filmes e séries que revisitam a complexa relação entre o Oriente e o Ocidente durante as Cruzadas.