No dia 6 de maio de 1952, falecia Maria Montessori, a educadora italiana que revolucionou a maneira de se pensar a educação infantil.
Na época em que iniciou seus estudos pedagógicos, no final do século XIX e início do século XX, o campo da pedagogia ainda era dominado por concepções tradicionalistas de educação, que incluíam visões hierarquizantes (fortemente influenciadas por modelos de controle surgidos no contexto da industrialização), disciplina rígida e obediência a comandos, com forte padronização curricular e ênfase na repetição mecânica de conteúdos.
O aprendizado era medido por meio de provas e testes aplicados de maneira uniforme, com poucos estudos específicos sobre o desenvolvimento infantil, as necessidades cognitivas e emocionais das crianças e, principalmente, sobre a importância de oferecer a elas algum grau de autonomia.
O legado de Maria Montessori distanciou-se significativamente desses modelos tradicionais e continua, até hoje, a influenciar práticas pedagógicas ao redor do mundo.
Ela defendia uma filosofia de respeito à individualidade e à autonomia da criança, reconhecendo os diferentes ritmos pessoais de desenvolvimento.
Um dos focos de sua pedagogia era o ambiente onde o aprendizado acontecia: a organização da sala de aula, a disposição dos alunos durante as atividades e o estímulo à autodisciplina a partir de relações mais horizontais entre alunos e professores.
Uma nova visão de autonomia
A visão de Maria Montessori sobre a autonomia infantil como motor do aprendizado foi um dos pilares mais revolucionários de sua pedagogia — e uma das maiores rupturas com os modelos tradicionais de ensino.
Um dos conceitos centrais desenvolvidos por ela foi o da mente absorvente: a ideia de que a criança é capaz de aprender por si mesma, desde que tenha liberdade para explorar, escolher e repetir atividades conforme suas necessidades internas.
Ao contrário da visão tradicional, Montessori afirmava que a criança não é uma "tábula rasa" nem um ser passivo a ser moldado; ela possui uma força vital que a estimula a aprender e a buscar respostas por conta própria.
Além disso, Montessori valorizava o respeito à dignidade da criança e aos seus direitos enquanto indivíduo em formação: a autonomia era, para ela, mais do que um instrumento pedagógico — era um ato político e ético.
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Na prática, essa visão implicava liberdade de escolha de atividades, respeitando o trabalho espontâneo das crianças; uso de materiais autodidáticos e autocorretivos, que permitiam à criança trabalhar sem depender constantemente da ajuda de um adulto, fazendo com que ela se percebesse como parte ativa do processo de aprendizagem; e a criação de ambientes acessíveis, em que a criança pudesse escolher, usar e devolver sozinha os materiais que utilizava.
Outra inovação importante foi a proposta da mistura de idades no ambiente de aprendizagem: em vez de separar os alunos por faixa etária rígida, Montessori defendia a convivência de crianças de diferentes idades em uma mesma sala, para promover o aprendizado conjunto, a cooperação, a liderança e o apoio mútuo.
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Nessa metodologia, o adulto é um observador e guia, que intervém apenas quando necessário.
O relacionamento com o ambiente
Montessori acreditava que o ambiente era o “terceiro educador”. Por isso, as salas de aula montessorianas são organizadas para favorecer a concentração e o trabalho independente, com materiais didáticos que estimulam a curiosidade e a exploração sensorial.
Esse ambiente favorece o que a psicologia moderna chama de flow — um estado de engajamento profundo em que o tempo parece passar mais rápido e o aprendizado se torna natural e prazeroso.
O sentido da educação
A pedagogia montessoriana visa formar indivíduos plenos, com senso de propósito, ética e responsabilidade social. Mais do que simplesmente preparar para testes padronizados, Montessori acreditava que a educação deveria preparar a criança para uma vida de aprendizado contínuo.
Por isso, o currículo montessoriano promove conexões interdisciplinares, que estimulam uma compreensão mais integrada do mundo. Ele costuma combinar estudos culturais, imersões práticas em conteúdos formais (como matemática) e preocupações com o desenvolvimento motor e cognitivo — muitas vezes por meio de jogos, brincadeiras e exercícios físicos.
Montessori também valorizava profundamente a vida prática — atividades como varrer, regar plantas, preparar alimentos e costurar. Para ela, essas tarefas não eram complementares, mas centrais na formação da autonomia e da responsabilidade da criança.
Ela acreditava que, ao permitir que a criança se mova, escolha, erre, repita, cuide e se organize — ou seja, que se torne autora do próprio desenvolvimento —, é possível fazer com que ela aprenda, desde cedo, que liberdade e responsabilidade caminham juntas.