HOMOFOBIA

Bolsonaro será denunciado no MP por associar varíola dos macacos aos homossexuais

Representação feita por vereadoras do PSOL aponta crime de homofobia em declaração do presidente ao Flow Podcast

Jair Bolsonaro durante entrevista ao Flow Podcast.Créditos: Reprodução
Escrito en LGBTQIAP+ el

O presidente Jair Bolsonaro (PL) será denunciado no Ministério Público pelo crime de homofobia devido a uma fala, feita em entrevista ao Flow Podcast na segunda-feira (9), em que associa a varíola dos macacos (monkeypox) à homossexualidade

A representação é assinada por Erika Hilton (PSOL), vereadora em São Paulo (SP), e Natasha Ferreira, suplente de vereadora do PSOL em Porto Alegre (RS) e ativista pelos direitos das pessoas trans e travestis. 

Na entrevista ao Flow Podcast, quando o apresentador Igor Coelho afirmou quer tomaria a vacina contra a varíola dos macacos, Bolsonaro fez uma "piada" sugerindo que os homossexuais seriam os responsáveis por transmitir a doença, por isso, desejariam a imunização. "Tu não me engana. Eu tenho certeza de que você quer tomar", disparou o presidente. 

"O mundo inteiro está preocupado com a epidemia de monkeypox e está se mobilizando para encontrar políticas concretas de combate à doença. Infelizmente, o presidente do Brasil mais uma vez se coloca na contramão da lógica e da ciência, exatamente como foi com a covid-19", afirma Erika Hilton. 

"Existe uma grande preocupação no mundo por que alguns dados mostram que a doença acabou atingindo mais homens gays, mas ela não é exclusiva desta parcela da população, muito pelo contrário. Grupos conservadores já começaram a usar a doença para estigmatizar pessoas LGBTI+, assim como aconteceu com o HIV. Quando Bolsonaro faz esse tipo de piada nas entrelinhas, tenta se proteger, mas deixa evidente o preconceito e a mensagem de discriminação é entregue. Homofobia é crime no Brasil. Não vamos silenciar", diz, por sua vez, Natasha Ferreira. 

Varíola dos macacos e a estigmatização 

No dia 27 de julho, após declarar emergência global para a Varíola dos Macacos, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, voltou a falar sobre e anunciou novas medidas de contenção da varíola.

"A melhor maneira de fazer isso é reduzir o risco de exposição. Isso significa fazer escolhas seguras para você e para os outros. Para homens que fazem sexo com homens, isso inclui, no momento, reduzir o número de parceiros sexuais, reconsiderar o sexo com novos parceiros e trocar detalhes de contato com novos parceiros para permitir o acompanhamento, se necessário", declarou o diretor-geral da OMS.

Para médicos sanitaristas e infectologistas a fala de Adhanom é desastrosa, pois, ao produzir um discurso direcionado a homens que fazem sexo com outros homens (HSH), gays e bissexuais, reproduz e traz de volta o estigma e preconceito criado nos anos 1980 e 1990 na epidemia do HIV/Aids quando, incialmente, o vírus foi tratado como algo exclusivo das LGBTQIA+

"A OMS não pode reproduzir erros do passado e trazer de volta o abominável termo da "peste gay" que foi utilizado em relação a Aids e que prejudicou muito as ações de prevenção e controle de um conjunto de pessoas que eram infectadas pelo HIV/Aids, porque reforçou à época o estigma com a população LGBT", critica o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), que é médico sanitarista e ex-ministro da Saúde. 

Para o médico infectologista Vinicius Borges a declaração da OMS é "precipitada". "A declaração foi precipitada porque o assunto da monkeypox (varíola dos macacos) já está trazendo uma grande carga de estigma e uma declaração dessa só serve para acentuar esse sentimento de LGBTfobia e, principalmente, homofobia em relação aos homens que fazem sexo com homens (HSH), bem parecido com os discursos que a gente via na década de 1980 com o HIV/Aids", disse Borges.