ATO PELA TERRA

Caetano Veloso no Senado: “O país vive sua maior encruzilhada ambiental”

O músico e outros artistas entregaram um documento no Congresso pedindo que os parlamentares não aprovem projetos prejudiciais ao meio ambiente

Caetano discursou no Senado.Créditos: Fotos: Mídia Ninja
Escrito en MEIO AMBIENTE el

O cantor e compositor Caetano Veloso e outros representantes da classe artística entregaram ao Congresso Nacional, na tarde desta quarta-feira (9), um documento contra o PL do Veneno e para “ampliar a voz da sociedade civil no ‘Ato pela Terra’”, conforme definiu o músico.

O objetivo é pedir que os congressistas assumam a “responsabilidade de impedir mudanças legislativas irreversíveis” contra projetos de lei que colaboram com a destruição do meio ambiente, como os que se referem ao aumento do desmatamento, do garimpo, do uso de agrotóxicos e que prejudicam os territórios indígenas do Brasil. Durante o evento,

Chico Buarque participou por videoconferência e endossou o pedido. Ele disse que não compareceu ao Senado porque está se recuperando de uma cirurgia. O músico classificou o PL do Veneno como "criminoso". "Faço questão de juntar minha voz à voz dos artistas e dos movimentos sociais para manifestar nosso repúdio a essas leis". Ele destacou, ainda, que o projeto não pensa na "saúde do povo brasileiro" e lamentou a "ameaça que representa às terras indígenas".

No discurso que fez ao entregar o documento assinado por artistas, Caetano disse que “o país vive hoje, sua maior encruzilhada ambiental desde a democratização. O desmatamento na Amazônia saiu do controle. As proteções sociais e ambientais construídas nos últimos 40 anos vêm sendo solapadas. A nossa credibilidade internacional está arrasada. O prejuízo é de todos nós”, afirmou.

“O dia de hoje marca uma mobilização inédita, que une um número expressivo de artistas e mais de duas centenas de organizações da sociedade civil e movimentos sociais em torno da causa ambiental”, ressaltou o músico.

Projetos nocivos ao meio ambiente “trazem um retrocesso tão grande que talvez não poderá mais fazer com que o ambiente volte a ser o que era antes. Se aprovadas, essas proposições podem facilitar o desmatamento, permitir o garimpo em terras indígenas e desproteger a floresta contra a grilagem e os criminosos”, acrescentou.

Caetano e os demais artistas foram recebidos pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), entre outros congressistas.

O cantor relembrou a Pacheco as tragédias provocadas pelas chuvas que aconteceram no estado que ele representa. “Como mineiro, o senhor sabe bem a quantidade de sofrimento humano provocado por tragédias climáticas e ambientais. Não nos esqueçamos de Mariana e Brumadinho onde a população até hoje chora seus mortos e suas perdas”, mencionou o artista.

Na sequência, Caetano ressaltou outros desastres ambientais recentes, que atingiram a Bahia e o Rio de Janeiro. “Neste ano, a minha Bahia ficou debaixo d'água e o Rio de Janeiro, estado que me acolheu, ainda recolhe o destroço da catástrofe de Petrópolis”, destacou.

Caetano, Pacheco e Randolfe

Caetano pede que todos cantem refrão da canção “Terra”

Ao final do pronunciamento de outros artistas, Caetano pediu que todos cantassem o refrão da canção “Terra”, de sua autoria, que diz: “Terra, Terra. Por mais distante, o errante navegante, quem jamais te esqueceria”.

Antes do discurso, Caetano havia dito que esperava “que a luz lançada no Senado possa levar a resultados práticos. O presidente da Câmara tem dado mostras de fazer passar toda a desastrosa permissividade que o atual governo propõe. O mundo vendo as proximidades de pesadelos bélicos e o Legislativo brasileiro apressando projetos que desrespeitam todo o cuidado que devemos ao tema ambiental. Esperamos que Pacheco seja mais sensato, educado e capaz de entender onde mora nossa dignidade como nação”.

 

Bela Gil, Sonia Guajajara e Mariana Ximenes

Pacheco diz que meio ambiente não é pauta da esquerda: “Preocupação mundial”

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, foi o último a discursar. Ele disse que o encontro foi uma das mais belas manifestações da sociedade civil no Congresso e prometeu tratar do assunto com o máximo de seriedade, franqueza e transparência, embora tenha elogiado o papel do agronegócio.

Pacheco declarou, ainda, que “o meio ambiente, tratado antes como pauta da esquerda, de artistas, hoje é uma preocupação mundial do capitalismo”. O senador ainda mencionou a péssima imagem atual do país no exterior relacionada à preservação ambiental.

Além dos artistas, centenas de pessoas protestavam em frente à Esplanada dos Ministérios contra os projetos que visam a destruição do meio ambiente, estimular o uso de agrotóxicos, desmatamento e garimpo em terras indígenas.