De Baku, Azerbaijão -- Quem se dirige à estação de Icheri Sheher, em Baku, antes de ingressar na passarela subterrânea que leva ao metrô frequenta território dominado por dois felinos.
Um deles, gorducho e de pelo amarelado, toma conta de uma floreira onde pacientemente maneja a terra depois de usar o banheiro.
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Um segundo, branco e cinza, descansa depois de comer ração deixada por algum vizinho.
As ruas da simpática e moderna capital do Azerbaijão estão dominadas pelos felinos.
São "gatos públicos", sem necessariamente um dono, na tradição destes animais independentes.
Diante da estação, em meio a intenso movimento, descansa um bichano branco, com manchas negras e rabo zebrado.
É o "dono" do pedaço, mas há muitos outros por perto.
Sem dominar o idioma local, o azerbaijani -- muito próximo do turco moderno -- este repórter apanha para conseguir mais informações a respeito.
Não existem estatísticas oficiais: são milhares de gatos nas ruas de Baku, todos aparentemente muito bem tratados.
O país é majoritariamente muçulmano, mas o Estado é laico.
No islã, os gatos são símbolos de pureza.
Um portal turco, refletindo sobre a curiosidade, escreveu:
No hadith, a coleção de ditos e ações do Profeta Muhammad, há muitos exemplos da predileção do profeta por gatos. Segundo um relato, certa vez o profeta cortou uma manga de seu manto para evitar perturbar seu gato favorito, que dormia nele.
Porém, em Baku o cuidado com os felinos vai muito além de uma tradição religiosa. Literalmente, eles fazem companhia a qualquer estrangeiro que faça caminhadas pela cidade.
Os bichanos chegam a ocupar -- sem serem incomodados -- os assentos nobres de cafés ou bancos em praças públicas dos quais, no Ocidente, possivelmente seriam enxotados.
Vizinhos conhecem os gatos pelos nomes, providenciam alimentação e, no extremo, levam os animais ao veterinário e bancam a conta.
Bichanos, uni-vos!
Diferentemente do que se vê em São Paulo, os cães são minoritários.
O repórter observou um deles sendo "passeado" pela dona.
Numa esquina, o canino passou pelos gatos "donos do território" como se eles nem existissem. Respeito é bom e os gatos gostam.
Diretor de comunicações da Confederação Brasileira de Futebol, Vinicius Rodrigues ficou famoso ao jogar um gato no chão, durante uma entrevista coletiva de Vinicius Junior na Copa do Mundo do Catar, em 2022.
O Brasil foi desclassificado em seguida pela Croácia, nos pênaltis.
Vinicius Jr., que nada teve com o incidente, acabou perdendo a Bola de Ouro de 2024, o que fãs dos felinos atribuem ao efeito deletério daquele episódio inesquecível.
Em Baku, as calçadas de um dos distritos mais chiques da cidade, Yasamal, estão repletas de pratos para alimentar os bichanos.
Ouvido por um repórter, um homem que se dedicou a cuidar de gatos nos parques de Baku, para superar tempos difíceis em sua vida pessoal, resumiu:
Comecei a alimentá-los há cerca de dois anos. Não há nada como ter um gato enrolado ao seu lado, mesmo quando você se sente totalmente deprimido. Há algo de especial neles.