Um estudo recente considerou restos fósseis de 20 sítios arqueológicos distribuídos entre Argentina, Chile e Uruguai, com idades estimadas em até 13.000 anos ?? no período de transição entre o Pleistoceno e o Holoceno —, a fim de entender os padrões de caça dos humanos primitivos.
Nos sítios avaliados, como Campo Laborde, Cueva Fell, Tagua Tagua e Monte Verde II, foram encontradas proporções altas de ossos de animais da megafauna, mamíferos de grande porte (com peso acima de 44 kg) que habitavam essas regiões pré-históricas. Os ossos compunham até 80% de todos os fósseis analisados, o que sugere que os primeiros habitantes da América do Sul costumavam caçar grandes animais em vez de presas menores e mais ágeis.
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Os táxons dos animais incluíam duas espécies de preguiças-gigantes, cavalos, tatus-canastras e outras presas que os autores acreditavam estar no topo das preferências alimentares dos primeiros humanos nos Pampas, na Patagônia e no Chile Central.
Para testar as hipóteses, os pesquisadores da Universidade Nacional de La Plata e do Museu Histórico e Arqueológico de Senillosa, na Argentina, aplicaram modelos de escolha de presa, que avaliam o custo energético de capturar diferentes presas em relação aos bônus nutricionais oferecidos (entre ganhos de caloria, carne e gordura), para inferir o quanto a caça de grandes presas era vantajosa para os humanos primitivos.
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De acordo com cronologias feitas a partir de medições por radiocarbono, as mudanças nos padrões de consumo dos humanos nos períodos anteriores e posteriores à extinção da megafauna reforçam a hipótese de que a caça teve papel importante no declínio das megafaunas da América do Sul, assim como as mudanças no padrão climático da região no fim da última era do gelo.
Embora capturar presas grandes se mostrasse mais vantajoso de acordo com os modelos de gasto e ganho de energia — o que justificava o maior esforço para caçar e transportar os indivíduos da megafauna —, acredita-se que, com a diminuição da disponibilidade dos grandes animais, os caçadores tenham começado a incluir mais animais menores na dieta, como forma de se adaptar às novas condições ambientais, entre 12.500 e 11.600 anos atrás.
“Os cientistas geralmente concordam que as mudanças climáticas no final do último período glacial foram um dos principais causadores do estresse ecológico e das extinções em todo o mundo”, explica a revista Popular Archaeology. No entanto, “alguns pesquisadores afirmam que os humanos desempenharam um papel insignificante no declínio da megafauna, enquanto outros argumentam que a predação pelos primeiros caçadores-coletores foi o principal fator responsável pelas extinções”.
Na América do Sul, os humanos podem ter desempenhado um papel menos proeminente na extinção da megafauna em relação a outros lugares, em parte devido à falta de sítios que contenham evidências de fauna e humanos no mesmo espaço.