O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou, na última sexta-feira (10), um novo financiamento de R$ 250 milhões para a “restauração ecológica de 24.304 hectares de áreas degradadas em regiões de preservação permanente e de reserva legal nos biomas Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia”.
O valor parte do Fundo Clima, iniciativa da instituição que financia projetos de economia de baixo carbono, gerida pelo Ministério do Meio Ambiente e com coordenação do Ministério da Fazenda. De acordo com o Banco, é o maior financiamento dessa ordem já aprovado pela instituição.
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O Fundo Clima foi criado em 2009, pela Lei nº 12.114, e tem como objetivo apoiar projetos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, inclusive recuperação de áreas degradadas e restauração florestal.
O valor será concedido à Suzano, multinacional brasileira líder da produção mundial de celulose, que opera 2,6 milhões de hectares florestais em áreas de matas nativas da Mata Atlântica, da Amazônia e do Cerrado, a maior parte destinada ao plantio de eucalipto (cerca de 1,5 milhão). A intenção é que a multinacional realize intervenções de restauração ecológica de áreas degradadas dos três biomas, em estados como São Paulo, Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Pará e Mato Grosso do Sul.
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As ações se voltam à regularização ambiental de cerca de mil imóveis rurais nessas regiões e ao fortalecimento da cadeia produtiva dos insumos florestais com bases sustentáveis, a fim de restaurar a vegetação nativa, reduzir processos erosivos em nascentes e corpos hídricos, criar ou reconectar corredores ecológicos e capturar ou fixar carbono, contribuindo com as metas nacionais de descarbonização.
Estima-se que, ao final do projeto, as áreas restauradas capturarão cerca de 228 mil toneladas de CO2 equivalente por ano, segundo a comissão técnica do BNDES.
De acordo com a vice-presidente executiva de Sustentabilidade, Comunicação e Marca da Suzano, Malu Paiva, o financiamento deve contribuir com algumas das metas assumidas pela Suzano, “como conectar 500 mil hectares de vegetação nativa até 2030”.
O Brasil ocupa o nono lugar mundial em áreas plantadas de eucalipto, concentradas principalmente no centro-sul do país. São mais de 7,8 milhões de hectares plantados, distribuídos entre Minas Gerais (2,3 milhões), Mato Grosso do Sul (1,4 milhão), São Paulo (1,3 milhão), Paraná (1,2 milhão), Santa Catarina (1,1 milhão), Rio Grande do Sul (1 milhão) e Bahia (0,7 milhão).
De acordo com estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), monoculturas de eucalipto são responsáveis por reduzir em quase 30% a biodiversidade de espécies de invertebrados bentônicos.
As monoculturas também tendem a exportar os nutrientes das árvores, que os adquirem do solo e não os retornam totalmente via matéria orgânica, o que pode levar à sua acidificação.
O uso extensivo de água pelas monoculturas de eucalipto gera, ainda, processos de erosão no solo, que fica desprotegido e sujeito a aumentos de temperatura e a um maior impacto da água da chuva, evidenciam pesquisadores da Universidade Estadual de Goiás em artigo publicado no periódico Research, Society and Development.
“A ocorrência de compostos alelopáticos, principalmente nas folhas, é outro ponto preocupante. As folhas de eucalipto dispersas na serapilheira, durante o período de chuvas, são levadas para rios e lagoas através da lixiviação e, entrando em contato com o ambiente aquático, liberam constituintes químicos, como os do óleo essencial”.