Pesquisadores brasileiros fazem descoberta de nova espécie na Antártica

A descoberta, conduzida por pesquisadores da UERJ, UFRJ e UFES, ajuda a reconstruir o ambiente antártico da era pré-glacial e "reforça as semelhanças históricas entre a Antártida e o sul da América do Sul"

Antártica.Créditos: Unsplash
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Uma nova espécie de peixe pré-histórico foi descoberta na Antártica por pesquisadores brasileiros do Departamento de Zoologia da UERJ, em colaboração com o Museu Nacional (UFRJ) e a UFES.

A expedição liderada pelos brasileiros ocorreu na região da Ilha James Ross, na Península Antártica, e a descoberta foi feita durante o projeto Paleoantar, durante o verão antártico entre 2018 e 2019, na formação geológica de Snow Hill Island.

O peixe, batizado de Antarctichthys longipectoralis, é um fóssil já extinto que viveu na Terra durante o período Cretáceo, entre 145 e 66 milhões de anos atrás.

O espécime, que media entre 8 e 10 centímetros, foi reconstruído em imagem tridimensional a partir de microtomografia de raios X aplicada em fósseis — foram geradas mais de duas mil imagens para a recomposição.

Reconstrução do Antarctichthys longipectoralis.
Créditos: Nature / divulgação

O Antarctichthys longipectoralis pertence à família extinta Dercetidae, um grupo de peixes de corpo delgado, cabeça alongada e espinhos neurais reduzidos, que até então só havia sido registrado no Hemisfério Norte.

A espécie tinha como traço distintivo nadadeiras peitorais mais longas e vivia em águas mais quentes, com vegetação abundante e ecossistemas marinhos diversificados — como era a Península Antártica antes das eras de glaciação.

Outro diferencial da espécie é a ausência completa de dentes.

A presença do fóssil na região sugere que a Antártica abrigava florestas abundantes e é peça-chave para entender a evolução da vida marinha no Hemisfério Sul, além dos efeitos das mudanças climáticas sobre os ecossistemas antigos.

Do ponto de vista científico, trata-se de um dos fósseis de vertebrado marinho mais bem preservados já encontrados na Antártica.

A descoberta foi publicada na revista científica Nature, e a pesquisa se estendeu durante cinco anos, período em que a amostra foi transferida ao Brasil para estudo e reconstrução imagética.

"Com as informações fornecidas pela Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ), os paleontólogos conseguiram não apenas descrever a nova espécie, mas também reconstruir o ambiente antártico no final do período Cretáceo", afirma a instituição.

"Há 66 milhões de anos, o continente gelado apresentava temperaturas entre 20°C e 30°C, vegetação abundante — araucárias, pinheiros, samambaias — e uma fauna diversificada de peixes, aves, répteis e anfíbios. A descoberta reforça as semelhanças históricas entre a Antártida e o sul da América do Sul."

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