Um estudo publicado no começo de outubro na revista Nature indica que as florestas tropicais australianas se tornaram as primeiras no mundo a emitir mais gás carbônico para a atmosfera do que capturar.
Essa inversão ocorre devido à perda progressiva da biomassa lenhosa (troncos e galhos) desde o ano 2000, resultado do aumento da mortalidade das árvores causada por mudanças climáticas antropogênicas, como temperaturas mais elevadas, episódios mais frequentes de secas e ciclones tropicais.
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De acordo com os pesquisadores, que conduziram análises das florestas tropicais da Austrália entre 1971 e 2019, as árvores mortas devolvem carbono à atmosfera em um nível superior à capacidade das florestas de sequestrar o CO2 por meio do processo normal de fotossíntese.
"A transição foi impulsionada por temperaturas cada vez mais extremas e outras anomalias climáticas, que aumentaram a mortalidade de árvores e as perdas de biomassa associadas, sem evidências de fertilização de carbono no crescimento de árvores lenhosas", afirma o artigo.
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A capacidade das florestas de atuar como sumidouros de carbono também foi influenciada pelo surgimento de ciclones e impactos de magnitude de longo prazo, que têm como impulsionadoras as mudanças climáticas.
Além disso, a análise de longo prazo revelou que o crescimento vegetal induzido pelo aumento da concentração de CO2 — que "incha" as árvores e estimula sua atividade — ocorreu em uma escala menor do que a ideal, devido à escassez de nutrientes essenciais no solo florestal, principalmente o fósforo.
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"Nossos modelos mostram que extremos de temperatura têm um forte efeito causal total na perda de AGB lenhosa nas florestas tropicais úmidas da Austrália. Esses extremos de temperatura têm aumentado em magnitude e frequência ao longo do tempo, impulsionados pelas mudanças climáticas antropogênicas".
O aquecimento afeta a assimilação e o metabolismo do carbono por meio de efeitos diretos na bioquímica fotossintética das plantas.
Hoje, as florestas tropicais são responsáveis por cerca de 25% da absorção total de gás carbônico anualmente.
Outras regiões tropicais, como a Bacia do Congo e o Sudeste Asiático, também mostram sinais preocupantes de perda da capacidade de sequestro de carbono, e cerca de 291 milhões de hectares de florestas tropicais do mundo (de um total de aproximadamente 1,6 bilhão) estão sob alta ameaça de perda de vegetação.
Até 2030, estima-se que o investimento global em reflorestamento seja triplicado, entre iniciativas de agricultura sustentável e cadeias produtivas ambientalmente seguras, de acordo com o relatório anual do Programa Ambiental das Nações Unidas.
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