Não são apenas as temperaturas, as secas e inundações localizadas que alcançam níveis recordes, mas principalmente a desinformação e o negacionismo climático, que já começaram a disparar nas redes com a proximidade da COP30, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas marcada para Belém. A conferência acontece daqui há 35 dias, em novembro, no Pará, e é organizada pelo governo Lula, sob a expectativa de ser a conferência que vai implementar medidas concretas contra a emergência climática no mundo, mas como esperado, já é alvo do lobby agrário e econômico e do greenwhashing.
Junto a isso, publicações nas redes sociais com informações falsas sobre a COP30 registraram mais que o dobro de usuários em agosto, em comparação à média dos sete meses anteriores. É o que diz um estudo organizado pela coalizão internacional Climate Action Against Disinformation e o Observatório de Integridade da Informação, com base em análises feitas nas plataformas X, Instagram, Facebook, YouTube, Reddit e LinkedIn.
As postagens enganosas sobre a COP30 alcançaram, em média, 1,2 milhão de usuários, um salto de 149% em relação à média de janeiro a julho (486 mil). O pico acompanha a COP30 ganhando mais visibilidade política e pública. As menções à Conferência mundial chegaram a 14 mil, muitas delas associadas a termos negativos como “desastre”, “piada”, “catástrofe” e “fracasso” — um salto de 267% em comparação a julho.
Segundo os pesquisadores, a cadeia produtiva de mentiras "opera como uma franquia global com filiais locais. As táticas são transnacionais: mentiras, listas de mensagens e formatos viajam entre países; mentirosos que se retroalimentam; plataformas dão escala. Vimos importações diretas de mentiras como (“globalistas”, “deep state”) e movimentos anti-COP, além de desinformação “com sotaque local” adaptada ao contexto brasileiro. Problemas mundiais exigem respostas globais urgentes", descrevem no estudo.
Entre os pontos que precisam ser enfrentados, de acordo com a pesquisa, estão:
- O custo da desinformação — e a monetização;
- A concentração de poder e dinheiro, como o mercado publicitário;
- A ameaça a stakeholders, defensores ambientais, jornalistas, cientistas, dentre outros profissionais e lideranças;
- Greenwashing (maquiagem verde);
- Litígio.
Como desinformação sobre a COP está se espalhando
A conferência, a imagem do Brasil e de Belém estão entre os principais alvos, com críticas concentradas em supostos problemas de hospedagem, infraestrutura e segurança. Vídeos fora de contexto, imagens manipuladas com inteligência artificial e registros feitos longe de Belém dominaram as peças de desinformação. Entre elas, imagens da Geórgia foram apresentadas como se retratassem hospedagens da COP, e vídeos de urubus no Ver-o-Peso — gravados em maio de 2023 — circularam para reforçar a ideia de colapso e descaso.
Mentiras alimentaram uma onda de vídeos curtos, críticas e comentários inflamados. Em uma análise de 100 postagens sobre a COP30 no último mês, 30 apresentavam conteúdo falso ou estratégias de desinformação, de acordo com o Guia de Referência sobre Desinformação Climática, que pode ser acessada por este link.
O guia indica que a rede de negação à ação climática é composta por um conjunto coordenado de atores que trabalham para obstruir políticas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Conhecida como "contramovimento à ação climática", ou Climate Change Counter-Movement (CCCM), essa rede reúne desde corporações de combustíveis fósseis e associações comerciais até think-tanks, fundações e cientistas contrários às ações ambientais. Além disso, inclui grupos de fachada, campanhas de astroturf, políticos e mídia conservadora, assim como a blogosfera negacionista.
Especialistas destacam que esses atores atuam de forma articulada para atrasar e enfraquecer o combate às mudanças climáticas. O Laborátorio de Estudos de Internet e Redes Sociais da UFRJ (NetLab), por meio do levantamento, também revelou que temas ligados à sustentabilidade estão sendo instrumentalizados para criar polarização política.
Em discurso na ONU em meados de setembro, Lula destacou a necessidade trazer o combate à mudança do clima e propôs a criação de um conselho para monitoramento das ações climáticas globais e conclamou os países a se comprometerem com metas ambiciosas para redução de emissão dos gases que causam o efeito estufa.
“O ano de 2024 foi o mais quente já registrado. A COP30, em Belém, no Brasil, será a COP da verdade. Será o momento de os líderes mundiais provarem a seriedade de seu compromisso com o planeta”, disse.