PONTO DE NÃO-RETORNO

Amazônia tem alta histórica de temperatura e ultrapassa limite climático

Nos últimos 39 anos, a Amazônia perdeu mais de 50 milhões de hectares de vegetação nativa e ultrapassou o aumento médio de temperatura considerado ponto de não-retorno

Floresta Amazônica.Créditos: Unsplash
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

Dados de um levantamento do MapBiomas compartilhados nesta quarta-feira (5) apontam que a Amazônia brasileira registrou, ao longo de 2024, um aquecimento em nível recorde, que ultrapassa o limite climático estabelecido como ponto de não-retorno pelas convenções internacionais: 1,5°C acima das médias de temperatura registradas entre 1985 e 2024.

O valor aparece como recorde do monitoramento de longo prazo da plataforma e é resultado de um aumento progressivo nas médias de temperatura globais, somado à perda de floresta nativa pelo desmatamento, à redução dos níveis de chuva e aos padrões regionais de secas mais prolongadas.

Entre os 39 anos analisados, a Amazônia perdeu cerca de 52 milhões de hectares de sua vegetação nativa, o que corresponde a 13% do total do bioma, de acordo com o levantamento. O desmatamento é até 74% responsável pela redução das chuvas locais e explica pelo menos 16% do aumento de temperatura observado na Amazônia, com o restante atribuído aos padrões do aquecimento global de larga escala avistado em todo o mundo.

Medições do INMET e do sistema meteorológico nacional confirmam que o ano de 2024 foi um dos mais quentes do Brasil, com médias de temperatura acima da série climatológica mais recente, entre 1991 e 2020. Os extremos de temperatura tendem a aumentar com o avanço do colapso climático.

De acordo com o Instituto Copernicus, serviço europeu de monitoramento climático, a temperatura global também atingiu o marco de mais 1,5°C acima dos níveis pré-industriais em 2024.

A perda de floresta e a elevação da temperatura diminuem o fluxo de evapotranspiração das florestas tropicais, essencial para o controle do ciclo hidrológico que devolve umidade à atmosfera e contribui para a formação da precipitação regional. Além disso, a maior exposição do solo à luz solar, com a diminuição da mata nativa, traduz-se em dias mais quentes e maiores temperaturas máximas.

Apesar disso, a Amazônia registrou, em 2025, seu menor índice de desmatamento em unidades de conservação desde 2008, com queda de 11,08% no desmatamento total e de 31% em relação a 2024.

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O desmatamento correspondente em 2025 foi de 5.796 km² entre agosto do ano passado e julho deste ano, segundo dados do INPE, que mostram uma queda sequencial nos últimos quatro anos.

A redução se explica pelo aumento de operações de fiscalização (que subiu para 9.540 no período de um ano), pelo emprego mais amplo de tecnologias de monitoramento, pelo financiamento da atividade produtiva sustentável (com iniciativas como o Fundo Amazônia, programa que já aprovou mais de R$ 1,189 bilhão em recursos em 2025) e pela legislação com critérios mais rígidos para a exploração dos territórios em atividades agrícolas.

Os estados com a maior redução observada no desmatamento foram Tocantins (62,5%), Amapá (48,15%), Roraima (37,39%) e Rondônia (33,61%), seguidos de Acre, Maranhão, Amazonas e Pará. O único estado que apresentou aumento, em vez de diminuição do desmatamento, foi o Mato Grosso, que lidera a expansão da agropecuária e de pastos no Brasil — o aumento registrado no estado foi de 26,05%.

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