Poluição por ansiolíticos deixa peixes 'dopados', diz estudo

Monitoramento reforça o alerta sobre a presença crescente de medicamentos, cafeína e até cocaína em corpos d’água

Créditos: Wikimedia Commons.
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

Uma pesquisa publicada nesta quinta-feira (10) na revista Science revelou que medicamentos descartados em rios e mares estão afetando o comportamento de peixes. Entre as substâncias analisadas, o ansiolítico clobazam mostrou impactos significativos no salmão-atlântico, espécie comum na Europa.

Cientistas suecos implantaram dispositivos nos peixes que liberavam doses constantes de clobazam, do analgésico opioide tramadol e de uma combinação dos dois. As concentrações foram semelhantes às detectadas em águas contaminadas por resíduos humanos.

Após um ano de monitoramento, os peixes expostos ao ansiolítico migraram dos rios para o mar em velocidade acima do normal e apresentaram mudanças sociais: evitavam cardumes mesmo diante de predadores, o que reduz suas chances de sobrevivência.

Segundo os pesquisadores, a migração precoce pode colocar os animais em risco, já que o ciclo natural serve para evitar deslocamentos em períodos de alta presença de predadores ou condições ambientais desfavoráveis.

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Apesar de indicar maior agilidade de peixes ao enfrentar obstáculos como barragens, o estudo aponta riscos nas alterações comportamentais, com mudanças no instinto de defesa e na organização social que podem comprometer a sobrevivência dos peixes no mar e afetar seus ciclos reprodutivos.

A pesquisa integra também um campo em expansão que estuda os efeitos de medicamentos humanos na fauna silvestre. Investigações anteriores já mostraram que substâncias como antidepressivos e remédios para diabetes também interferem no comportamento de peixes, muitas vezes de forma imprevisível.

O estudo reforça o alerta sobre a presença crescente de medicamentos, cafeína e até cocaína em corpos d’água. Pesquisas no Brasil já detectaram traços dessas substâncias em rios e peixes, como no Rio de Janeiro e no litoral de São Paulo.

Os autores defendem medidas urgentes para conter a contaminação das águas por substâncias de uso humano, destacando os impactos ambientais e a ameaça à biodiversidade marinha.

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