Amostras do solo amazônico coletadas por pesquisadores do Instituto de Geociências (IGc) da Universidade de São Paulo (USP) entre maio e setembro do ano passado, na margem sul da Ilha de Marajó, situada na foz do rio Amazonas, serão enviadas, nos próximos dias, a um laboratório da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, a fim de estudar sua composição e desvendar o "passado" da floresta.
As amostras, cuja coleta faz parte de uma iniciativa internacional composta por cientistas de 12 países — o Projeto de Perfuração Transamazônica (TADP, na sigla em inglês) — devem funcionar como uma espécie de caixa-preta da evolução da floresta amazônica. Cada uma delas, disposta em tubos cilíndricos, corresponde a um segmento perfurado do poço que chegou a atingir 924 metros de profundidade em Bagre, município da mesorregião do Marajó, a 271 km de Belém, segundo o Jornal da USP.
Os tubos contêm amostras de sedimentos trazidos pelo Rio Amazonas, que remetem a um passado distante da floresta.
“Os pesquisadores estimam que correspondam a 25 milhões de anos de história da Amazônia”, afirma o jornal, e devem fornecer “uma visão panorâmica de como o clima, a paisagem e a biodiversidade do bioma se modificaram ao longo desse período”, a partir dos sedimentos acumulados nas bacias sedimentares da floresta (da mesma forma como se investigam registros fósseis).
Esses sedimentos são compostos por detritos de plantas, solos, rochas e animais carregados por rios e lagos do passado e que permaneceram acumulados até se transformarem em rochas sedimentares, explica o geólogo André Sawakuchi ao Jornal da USP.
São, de forma simplificada, restos mortais de tudo o que existia há milhões de anos na floresta e que ficaram incrustados em seu "DNA" ao longo do tempo.
Um dos objetivos do projeto é mapear a “idade e origem geográfica dos sedimentos”, a fim de desenhar um retrato da malha fluvial antiga da Bacia Amazônica e entender fenômenos geológicos de maior escala, como o surgimento da Cordilheira dos Andes e sua influência sobre a organização dos padrões fluviais amazônicos.
“As evidências disponíveis até o momento sugerem que o Rio Amazonas como o conhecemos hoje (drenando para o leste e desaguando no Oceano Atlântico) começou a se formar cerca de 11 milhões de anos atrás”, diz Cleverson Silva, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Embora a ideia inicial fosse perfurar poços de até 2 mil metros de profundidade — o que permitiria investigar sedimentos de até 65 milhões de anos —, a equipe de pesquisadores esbarrou em “dificuldades técnicas e orçamentárias” que limitaram as perfurações a 924 metros, ao longo de 280 dias de trabalho.
A iniciativa teve um custo total de US$ 4 milhões e contou com o financiamento do Programa Internacional para Perfurações Científicas Continentais (ICDP), da Alemanha, além da National Science Foundation (NSF), dos EUA, e do Smithsonian Tropical Research Institute, sediado no Panamá.
No Brasil, o financiamento veio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
AMAZÔNIA
‘Caixa-preta’ da Amazônia: pesquisadores vão investigar 25 milhões de anos no passado amazônico
As amostras, cuja coleta faz parte de uma iniciativa internacional composta por cientistas de 12 países, devem funcionar como uma espécie de caixa-preta da evolução da floresta amazônica
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