Um ano após as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, entre abril e maio do ano passado, os últimos Centros Humanitários de Acolhimento — conhecidos como “cidades provisórias” — foram desativados. Cerca de 350 pessoas que ainda estavam nesses locais foram realocadas para moradias temporárias de 27 m², segundo informou o vice-governador Gabriel Souza.
Essas casas provisórias, muitas em estrutura de contêiner de concreto, são uma alternativa enquanto as residências definitivas seguem em construção.
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O casal Danilo Hiedt e Liana Maria de Quadros, por exemplo, vive há dois meses em uma dessas unidades, instaladas no terreno onde será construído o novo bairro Novo Passo da Estrela, em Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari. Antes disso, passaram por abrigos e ficaram na casa de parentes, conforme explicam para Agência Brasil.
O novo loteamento, feito em parceria entre o governo estadual e a prefeitura, homenageia o antigo bairro Passo da Estrela, destruído pelas chuvas. A previsão é que parte das 480 moradias previstas fique pronta até o fim deste ano.
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Em Roca Sales, outra cidade bastante afetada no Vale do Taquari, 150 famílias seguem sem moradia e aguardam o início das obras. Os contratos entre prefeitura e governos estadual e federal ainda não foram assinados. Morador da cidade, Mário Jora relembra a destruição de sua casa e a perda de três vizinhos. “A casa tinha parede dupla, era forte. Mas não resistiu”, conta.
Em Montenegro, no Vale do Caí, Carla Martins e o marido, ambos professores aposentados, perderam a casa e foram resgatados pelos bombeiros. Um ano depois, já mudaram duas vezes. Alugaram recentemente uma nova casa, longe do rio, com espaço para os animais de estimação. “Não consigo mais ficar perto da antiga casa. Me dá ansiedade só de lembrar”, diz.
Além do trauma emocional, Carla também relata dores nos braços, causadas pelos esforços para limpar a casa tomada pela lama. “A gente compra móveis de novo. Mas as fotos, as lembranças, isso se perdeu pra sempre”, lamenta.
Ações incertas
A Secretaria da Reconstrução Gaúcha (SERG) afirma que está em andamento um plano para tornar o Rio Grande do Sul referência nacional em resiliência climática, com a instalação de um novo radar meteorológico e a contratação de outros três para cobrir todo o estado. No entanto, especialistas alertam que apenas tecnologia não basta: é necessário estabelecer protocolos de evacuação e medidas preventivas
A SERG ainda não apresentou prazos para ações estruturais, como a reorganização urbana, reestruturação da Defesa Civil e mapeamento de rios e relevo. Projetos maiores, como sistemas de contenção de cheias, dependem de tempo e investimentos.
A secretaria também prevê o uso de soluções baseadas na natureza, como áreas verdes e reservatórios, mas não detalhou se os municípios já enviaram propostas. Para o Cemaden, a prevenção ainda é a principal estratégia para reduzir perdas humanas e materiais diante de novos eventos extremos.
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