DESIGUALDADE GERACIONAL

Isso é o que pode acontecer com crianças nascidas hoje, alertam cientistas

Crise climática agrava desigualdade geracional, aponta novo estudo da revista Nature

Crianças nascidas em regiões tropicais e em comunidades de baixa renda tendem a sofrer impactos mais severos.Créditos: MARCELLO CASA JR/AGÊNCIA BRASI
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

Um estudo publicado na revista Nature revela que crianças nascidas em 2020 viverão em um mundo muito mais afetado por eventos climáticos extremos do que aquelas nascidas em 1960 — especialmente nos países mais pobres. A pesquisa aponta que, se as políticas climáticas atuais forem mantidas, levando o planeta a um aquecimento de até 2,7°C até o fim do século, essas crianças terão entre duas e sete vezes mais chances de enfrentar secas severas, ondas de calor, enchentes, incêndios florestais e perdas agrícolas.

O cenário é ainda mais alarmante em projeções de aquecimento de 3,5°C: 92% das crianças de cinco anos hoje poderão passar por ondas de calor perigosas; 29% enfrentarão quebras de safra; e 14% estarão sujeitas a inundações graves ao longo da vida. Para efeito de comparação, apenas 16% dos nascidos em 1960 foram expostos a ondas de calor tão intensas.

Luke Grant, principal autor do estudo e pesquisador do Centro Canadense de Modelagem Climática, destaca que a desigualdade geracional é evidente: “Mesmo limitando o aquecimento global a 1,5°C, metade dos jovens de hoje enfrentará níveis inéditos de calor extremo”. Ele também observa que, embora a proporção varie para outros desastres climáticos, os impactos continuam significativamente maiores para os mais jovens.

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A desigualdade também é social. Crianças nascidas em regiões tropicais e em comunidades de baixa renda tendem a sofrer impactos mais severos. Segundo o estudo, 92% das crianças de famílias pobres devem encarar riscos climáticos intensos durante a vida, enquanto entre as crianças mais ricas, essa taxa é de 79%.

A pesquisa combinou projeções populacionais, expectativa de vida e modelos climáticos para traçar os riscos que cada geração enfrentará, em diferentes cenários de emissões. A conclusão é clara: quanto mais o planeta aquece, maior a exposição a extremos climáticos sem precedentes.

A preocupação com o futuro já afeta os mais novos. Levantamento feito pela YouGov a pedido do Greenpeace indica que quase 80% das crianças com menos de 12 anos se dizem preocupadas com a crise climática.

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Apesar de robusta, a pesquisa não inclui impactos indiretos como migração forçada, conflitos por recursos ou alterações em taxas de natalidade e mortalidade. Ainda assim, especialistas consideram os dados um sinal claro de que a justiça climática precisa incluir a dimensão geracional. “As decisões que tomamos agora terão reflexos profundos na vida das gerações futuras”, afirmam cientistas do Departamento de Estatística da Universidade de Bolonha, em artigo complementar.

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