Um estudo publicado na revista Nature revela que crianças nascidas em 2020 viverão em um mundo muito mais afetado por eventos climáticos extremos do que aquelas nascidas em 1960 — especialmente nos países mais pobres. A pesquisa aponta que, se as políticas climáticas atuais forem mantidas, levando o planeta a um aquecimento de até 2,7°C até o fim do século, essas crianças terão entre duas e sete vezes mais chances de enfrentar secas severas, ondas de calor, enchentes, incêndios florestais e perdas agrícolas.
O cenário é ainda mais alarmante em projeções de aquecimento de 3,5°C: 92% das crianças de cinco anos hoje poderão passar por ondas de calor perigosas; 29% enfrentarão quebras de safra; e 14% estarão sujeitas a inundações graves ao longo da vida. Para efeito de comparação, apenas 16% dos nascidos em 1960 foram expostos a ondas de calor tão intensas.
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Luke Grant, principal autor do estudo e pesquisador do Centro Canadense de Modelagem Climática, destaca que a desigualdade geracional é evidente: “Mesmo limitando o aquecimento global a 1,5°C, metade dos jovens de hoje enfrentará níveis inéditos de calor extremo”. Ele também observa que, embora a proporção varie para outros desastres climáticos, os impactos continuam significativamente maiores para os mais jovens.
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A desigualdade também é social. Crianças nascidas em regiões tropicais e em comunidades de baixa renda tendem a sofrer impactos mais severos. Segundo o estudo, 92% das crianças de famílias pobres devem encarar riscos climáticos intensos durante a vida, enquanto entre as crianças mais ricas, essa taxa é de 79%.
A pesquisa combinou projeções populacionais, expectativa de vida e modelos climáticos para traçar os riscos que cada geração enfrentará, em diferentes cenários de emissões. A conclusão é clara: quanto mais o planeta aquece, maior a exposição a extremos climáticos sem precedentes.
A preocupação com o futuro já afeta os mais novos. Levantamento feito pela YouGov a pedido do Greenpeace indica que quase 80% das crianças com menos de 12 anos se dizem preocupadas com a crise climática.
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Apesar de robusta, a pesquisa não inclui impactos indiretos como migração forçada, conflitos por recursos ou alterações em taxas de natalidade e mortalidade. Ainda assim, especialistas consideram os dados um sinal claro de que a justiça climática precisa incluir a dimensão geracional. “As decisões que tomamos agora terão reflexos profundos na vida das gerações futuras”, afirmam cientistas do Departamento de Estatística da Universidade de Bolonha, em artigo complementar.
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