A Terra é formada, canonicamente, por sete continentes: Ásia, África, América do Norte, América do Sul, Antártida, Europa e Oceania. Todos eles, no entanto, já estiveram conectados em uma única massa de terra, há aproximadamente 540 milhões de anos. Era o supercontinente Pangeia, formado na era Paleozoica, que mais tarde se fragmentaria em dois blocos distintos: Laurásia, ao norte, e Gondwana, ao sul.
É justamente na dissolução de Gondwana (bloco que englobava as regiões que hoje conhecemos como América do Sul, África, Antártida, Austrália, Península Arábica e o subcontinente indiano) que começa a história do que alguns cientistas consideram o “oitavo” continente da Terra: a Zelândia — ou Te Riu-a-Maui, no idioma maori.
Te podría interesar
Há cerca de 180 milhões de anos, quando Gondwana começou a se desintegrar, a Oceania se desprendeu do conjunto, e a Zelândia afastou-se daquele que viria a compor a Antártida e a Austrália. No entanto, ao contrário do que ocorreu com outras placas, que se fraturaram em ilhas menores, a Zelândia permaneceu unida como uma única crosta continental — apesar de ter afundado quase por completo sob o Pacífico Sul.
Com uma área estimada em 4,9 milhões de quilômetros quadrados, maior que a da Índia ou da Península Arábica (a maior do mundo), a Zelândia tem apenas cerca de 6% de sua superfície acima do nível do mar, com a Nova Zelândia e a Nova Caledônia formando suas porções mais visíveis.
Te podría interesar
O restante do "continente" permanece submerso entre 2.500 e 4.000 metros de profundidade. A hipótese de que essa enorme área poderia ser considerada o oitavo continente da Terra começou a ganhar força em 1995, quando o geofísico norte-americano Bruce Luyendyk percebeu que o território da Nova Zelândia e de partes submersas ao redor dele compartilhavam características típicas de uma crosta continental.
Créditos: World Data Center for Geophysics & Marine Geology (Boulder, CO); National Geophysical Data Center, NOAA
Nas décadas seguintes, avanços em geologia marinha e batimetria permitiram confirmar a extensão e a coerência estrutural do bloco submerso.
Foi somente em 2017, no entanto, que o geólogo neozelandês Nick Mortimer e uma equipe do instituto neozelandês GNS Science publicaram um estudo afirmando que a Zelândia atendia aos critérios científicos para ser reconhecida como continente.
Segundo os especialistas, uma massa continental deve apresentar crosta mais espessa que a do oceano (deve medir entre 30 e 50 km, comparada aos 5 a 10 km da crosta oceânica), conter rochas metamórficas antigas e sistemas tectônicos complexos e mostrar elevação significativa em relação ao fundo do oceano. Além disso, o território deve ser extenso, bem maior do que o de ilhas continentais, como Madagascar ou a Islândia.
Os pesquisadores identificaram que a Zelândia, embora submersa, cumpre todos esses critérios. Além das porções emersas do continente, a Zelândia também inclui grandes plataformas submarinas. “A Zealandia do Norte inclui os picos emergentes da Nova Zelândia e Nova Caledônia, e os picos submersos do Challenger Plateau, de Lord Howe Rise, Norfolk Ridge e Loyalty Ridge”, explica um artigo de 2023, desenvolvido por Mortimer e sua equipe e publicado no periódico Tectonics.
O artigo envolve um mapeamento detalhado da porção norte da Zelândia, baseado na análise de amostras de rochas dragadas do fundo do mar e em dados geofísicos refinados.
O estudo revelou formações vulcânicas extensas e zonas tectônicas ativas entre 100 e 60 milhões de anos atrás, sugerindo que a Zelândia desempenhou um papel central na fragmentação de Gondwana.
Os cientistas também encontraram indícios de magmatismo e formação de rochas metamórficas, características típicas da atividade orogênica que molda os continentes. Uma das descobertas mais relevantes foi, além disso, a presença de granito do Median Batholith, um arco magmático mesozoico com idades que variam entre 250 e 100 milhões de anos, que conecta partes emergidas e submersas da crosta da Zelândia.