Glenn Greenwald deixa The Intercept e diz ter sofrido censura

O jornalista anunciou nesta quinta-feira a saída do veículo que ajudou a fundar

Foto: The Intercept
Escrito en MÍDIA el

O jornalista Glenn Greenwald, editor fundador do The Intercept, anunciou nesta quinta-feira (29) que irá deixar o veículo após ser impedido de publicar um artigo no portal. Segundo ele, os editores exigiram a remoção de qualquer crítica à Joe Biden, candidato do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos.

"As mesmas tendências de repressão, censura e homogeneidade ideológica que geralmente assolam a imprensa nacional engolfaram o meio de comunicação que eu co-fundei, culminando na censura de meus próprios artigos", denuncia o jornalista em artigo publicado por ele no Substack.

"A causa final e precipitante é que os editores do Intercept censuraram um artigo que escrevi esta semana, recusando-se a publicá-lo a menos que eu remova todas as seções críticas a Joe Biden, o candidato veementemente apoiado por todos os editores do Intercept envolvidos neste esforço de supressão", detalhou.

Segundo o jornalista, ele seguirá publicando no Substack momentaneamente e destacou que não foi uma escolha fácil. "Eu não conseguia dormir à noite sabendo que permitia que qualquer instituição censurasse o que eu quero dizer e acreditar - muito menos um meio de comunicação que eu co-fundei com o objetivo explícito de garantir que isso nunca aconteça a outros jornalistas, muito menos a mim, muito menos porque escrevi um artigo crítico de um poderoso político democrata veementemente apoiado pelos editores na eleição nacional iminente", justificou.

Greenwald ganhou bastante destaque no Brasil em 2019 após a revelação da série de reportagens da Vaza Jato, que mostrava conversas entre procuradores do Ministério Público Federal de Curitiba e o ex-juiz federal Sérgio Moro, sobre investigações da Operação Lava Jato. Os diálogos foram publicados no The Intercept Brasil e em veículos como Folha de S. Paulo, El País Brasil e Agência Pública. Antes disso, Glenn ficou conhecido por ter feito a cobertura dos vazamentos de Edward Snowden sobre a NSA. Essas revelações incluíam um grampo da agência estadunidense contra a ex-presidenta Dilma Rousseff.

O jornalista recebeu o apoio de colegas da mídia independente. "Muito respeito pelo seu gesto baseada em princípios, Glenn. Tem sido uma tragédia ver o Intercept abandonar cada vez mais o jornalismo de confronto e adotar a ortodoxia Democrata, especialmente em sua cobertura internacional de bichos-papões nomeados por Washington. Estou ansioso para ver seu trabalho futuro", escreveu Ben Norton, editor do Grayzone, no Twitter. Alguns usuários chegaram a lançar uma campanha pedindo Glenn no veículo: "Glennzone".

O deputado federal David Miranda (PSOL-RJ), esposo de Glenn, também comentou sobre o caso no Twitter. "O homem mais íntegro que não vende suas ideias e valores por nada nesse mundo. Minha inspiração em todos os momentos. Se demitiu do The intercept por causa de censura. Sigo firme apoiando e amando sua integridade. LEIAM!", disse.

The Intercept

O The Intercept rebateu as alegações do jornalista. Segundo o veículo, “Glenn exige o direito absoluto de determinar o que vai publicar” e “acredita que qualquer pessoa que discorde dele é corrupta e qualquer pessoa que pretenda editar suas palavras é um censor”.

 “Nosso objetivo ao editar seu trabalho era garantir que fosse preciso e justo. Enquanto nos acusa de preconceito político, era ele quem tentava reciclar as afirmações duvidosas de uma campanha política – a campanha Trump – e lavá-las como jornalismo”, afirmou o veículo.

Confira aqui o artigo de Glenn Greenwald na íntegra

https://twitter.com/ggreenwald/status/1321869227226222593
https://twitter.com/BenjaminNorton/status/1321875840074993665
https://twitter.com/davidmirandario/status/1321870275798044672