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Dom Phillips e Bruno Pereira: Band passa pano para Bolsonaro e é criticada

Editorial reforçou laços da emissora com o presidente e com a pauta ruralista; em dezembro, o presidente da Band minimizou o desmatamento na Amazônia

Eduardo Oinegue, âncora do Jornal da Band.Créditos: Reprodução/Redes Sociais
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A TV Band foi criticada nas redes sociais nesta quinta-feira (16) por um editorial do Jornal da Band veiculado na quarta-feira logo após a confirmação de que a Polícia Federal (PF) encontrou restos humanos que, segundo a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), seriam do jornalista e do indigenista Bruno Pereira, que estavam desaparecidos na Amazônia. A emissora isentou o presidente Jair Bolsonaro (PL) de qualquer responsabilidade, gerando indignação. A Band possui laços profundos com o agronegócio.

O editorial, enunciado pelo jornalista Eduardo Oinegue, dizia que não se podia "politizar" a tragédia. Segundo o telejornal, o assassinato não pode ser visto como um efeito da política do governo Bolsonaro na Amazônia. "Não é. Não vamos misturar", disse o âncora.

A posição da emissora contraria a visão do Parlamento Europeu sobre o caso. Em entrevista ao jornalista Jamil Chade, do portal Uol, a eurodeputada Anna Cavazzini, vice-presidenta da delegação do Parlamento Europeu para o Brasil, responsabilizou o presidente pelas mortes. 

"Estes assassinatos são também uma consequência da difamação dos ativistas humanos e ambientais pelo presidente Bolsonaro e do desmantelamento da legislação ambiental e de direitos humanos", apontou.

Nas redes sociais, muitas críticas foram feitas à emissora. "Não politizem um assassinato político. Não envolvam um governo envolvido com grileiros no que aconteceu. A Band é a voz dos grileiros do país", disse um usuário que compartilhou o vídeo.

"Acabei de ver um trechinho do Jornal da Band em q o âncora alerta q não se deve politizar o caso Dom e Bruno, pq o jeito como o governo Bolso trata a Amazônia e os indígenas não tem nada a ver com o caso. Vai ver se a gente tá na esquina, Band!", reagiu a professora universitária e ativista Lola Aronovich.

Não é de hoje que a Band abraça a pauta ruralista e naturaliza o desmatamento na Amazônia. Durante a votação do Marco Temporal no Supremo Tribunal Federal (STF), a emissora demonizou a mobilização indígena pelas suas terras e defendeu a pauta do agronegócio, conforme aponta artigo de João Filho no The Intercept Brasil.

Em dezembro de 2021, o presidente da Band, Johnny Saad disse que a imprensa "muito rabugenta" na pauta ambiental e insinuou que as queimadas na Amazônia não eram graves. “Quando nossa equipe vai lá checar as denúncias, não bate. Simplesmente não bate. Sessenta e seis por cento do nosso território continua intacto, igualzinho quando Cabral chegou aqui”, disse.

A Band chegou a ser premiada em um evento promovido pela bancada ruralista do Congresso em junho desse ano, conforme reportagem do De Olho nos Ruralistas. O vice-presidente do Grupo Bandeirantes, Paulo Saad, discursou no evento exaltando o agro. “O agronegócio é o exemplo perfeito do que o Brasil poderia ser”, disse Saad, acrescentando estar “cheio de orgulho” pelo reconhecimento.

Assista ao editorial do Jornal da Band e veja a reação nas redes