FOLHA

Folha reduz legado de Aracy Balabanian, Rita Lee e Glória Maria atrás de cliques

Obituários desrespeitosos e misóginos do jornal são execrados nas redes por reduzir grandes mulheres à prática de aborto, uso de drogas e etarismo

A Folha e a chamada sobre Aracy Balabanian.Créditos: Redes Sociais
Escrito en MÍDIA el

O primeiro sinal, que passou quase despercebido, veio em fevereiro deste ano, logo após a morte da jornalista Glória Maria. A Folha fez uma nota com a chamada: “Glória Maria tinha quantos anos? Jornalista fazia de tudo para esconder a idade”.

A gracinha reducionista e sem importância com a característica reconhecida da repórter deve ter rendido para o jornal. Em maio, com a morte da cantora Rita Lee, a Folha repete a fórmula com dose elevada à enésima potência, com o título: “Rita Lee, rebelde desde a infância, se deixou levar por drogas e discos voadores”.

A reação desta vez foi fulminante. As redes desabaram sobre o jornal a ponto da autora do texto, a jornalista Laura Mattos, escrever outro artigo comentando o linchamento que recebeu. Seu texto anterior, correto e até mesmo afetuoso, descrevia fatos e atitudes que a própria cantora nunca deixou de revelar, sobretudo em seu livro “Rita Lee – Uma Autobiografia”, lançado em 2016.

Atrás de clicks e controvérsias, no entanto, a edição deu ao texto o pavoroso título. A própria autora afirma que não foi “de fato, uma boa escolha”. Após a repercussão extremamente negativa da chamada, o jornal mudou para: “Drogas tiveram papel político na trajetória de Rita Lee, rebelde desde a infância.”

Aracy Balabanian

A Folha, no entanto, não se emendou. Nesta segunda-feira (8), com a morte de Aracy Balabanian, lascou a chamada: “Aracy Balabanian fez aborto e não quis se casar para cuidar da carreira”.

Internautas se revezaram entre enfurecidos e irônicos para, mais uma vez, criticar o jornal. O escritor, ator e humorista Gregório Duvivier chegou a comentar: “Não tenho tanto medo de morrer quanto tenho do obituário da Folha”.

Uma internauta lembrou ironicamente que, na chamada da morte do cineasta americano William Friedkin, diretor de 'O Exorcista' e 'Operação França', “faltou informar se ele fez aborto, Folha”.

O jornalista e crítico de música, Pedro Alexandre Sanches, que já trabalhou na Folha, destacou: “Agora experimenta comparar com obituários de artistas homens. Folha misógina.” Ele ainda lembrou outra chamada no mesmo estilo: “Sineád O'connor foi casada por 16 dias em 2011 e se separou por causa da maconha”.

Veja abaixo outras postagens com críticas ao jornal: