A Semana de Joalheria de Milão, que será realizada entre os dias 16 e 20 de outubro, se consolidou como um dos eventos mais importantes do setor, reunindo profissionais, designers e marcas de joalheria de todo o mundo. Criada para dar visibilidade a um mercado em constante evolução, o evento celebra a tradição e a vanguarda da joalheria, posicionando-se como o palco ideal para a apresentação das novas tendências e do design mais inovador.
Milão: a capital da moda e da joalheria
Durante os cinco dias de evento, a cidade italiana se transforma em um verdadeiro laboratório de criatividade e inovação, com mais de 50 eventos, incluindo exposições, palestras e roteiros, que permitem ao público conferir de perto o trabalho de 350 expositores de mais de 40 países. Milão, reconhecida mundialmente como uma das capitais da moda, ao lado de Paris, Nova York e Londres, é sede de grandes eventos, como a Milano Fashion Week e abriga algumas das principais casas de moda e design do planeta.
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Este ano, 18 joalheiros brasileiros e dois grupos da área terão a chance de expor seus trabalhos no evento, consolidando ainda mais o Brasil no cenário global da joalheria. Dentre os destaques está a brasiliense Jana Fernandes, conhecida pela inovação e criatividade de seu trabalho. Ela terá duas peças de joalheria contemporânea expostas, ambas focadas na sustentabilidade e na exploração criativa.
Joalheria como expressão cultural: o caminho de Jana Fernandes
Em entrevista à Revista Fórum, Jana Fernandes compartilhou que sua participação na Semana de Joalheria de Milão não é apenas um feito individual, mas um reflexo de uma mobilização coletiva de pessoas que acreditam no valor de sua arte. Para ela, o patrocínio generoso que recebeu foi essencial para viabilizar sua participação, especialmente após um convite que recebeu em 2021, mas que não conseguiu concretizar devido a impasses financeiros.
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"A minha participação é fruto de uma mobilização que transcende a compreensão comum de ‘joia’", afirma Jana, destacando que sua trajetória na joalheria independente é marcada por desafios e um processo contínuo de superação.
Em 2021, Jana foi convidada a participar da Semana de Joalheria após a publicação de uma de suas peças nas redes sociais. No entanto, o convite, que parecia um sonho, não pôde ser concretizado devido ao alto custo de inscrição, envio da peça e impostos.
“Eu quase não acreditei que uma curadoria tão especializada buscasse novos talentos independentes pelo mundo”, comenta a joalheira.
Embora tenha lamentado a oportunidade perdida, Jana preferiu agradecer o convite e seguir em frente. Neste ano, a oportunidade voltou a surgir. No entanto, os custos ainda se apresentaram como um obstáculo.
A boa notícia veio com a generosidade de pessoas que acreditam no seu trabalho, possibilitando o patrocínio de parte dos custos. Para Jana, essa mobilização coletiva reflete um movimento que vai além da ideia tradicional de “joia” como algo destinado a um círculo restrito de elites sociais.
“A joalheria deveria avançar para que as joias sejam vistas como expressão artística e cultural", defende Jana.
Ela cita exemplos de artistas como Anitta, que levou o funk carioca ao cenário internacional, e os grafiteiros Kobra e Os Gêmeos, que colocaram o grafite brasileiro no mapa global.
“Ao se colocar no plano cultural, a expressão individual se torna um instrumento de reflexão e ação à disposição dos outros indivíduos", explica a joalheira.
Ela acredita que a joalheria tem o potencial de desempenhar esse papel de reflexão cultural, sendo uma ferramenta que, além de ser um soft power irresistível, pode abrir portas para o investimento em artistas e na arte brasileira, contribuindo para a valorização da arte nacional em um contexto global.
Jana Fernandes também integra a Associação de Designers de Produto do Distrito Federal (ADEPRO-DF), fazendo parte de uma nova geração de artistas que buscam transformar a joalheria em arte e ferramenta de reflexão cultural.
História da joalheria mundial: de arte antiga à expressão contemporânea
A joalheria tem mais de sete mil anos de história. Suas raízes remontam à pré-história, quando os primeiros seres humanos começaram a criar adornos com materiais naturais, como conchas, pedras e ossos. Esses primeiros adornos carregavam significados simbólicos e espirituais, além de representarem status e identidade.
O Antigo Egito foi um dos primeiros centros de excelência, com o ouro associado à imortalidade e à realeza. Já a Grécia Antiga e Roma introduziram a sofisticação estética, com peças mais detalhadas e o uso de gemas preciosas.
Durante a Idade Média, a joalheria passou a ser mais religiosa e espiritual, enquanto o Renascimento trouxe um novo auge com o uso de diamantes e esmeraldas, símbolo de status. Nos séculos XVII e XVIII, com a Revolução Industrial, a joalheria se tornou mais acessível. No século XIX, com o Art Nouveau, surgiram designs fluidos e orgânicos, inspirados pela natureza.
No século XX, a joalheria se modernizou com o uso de tecnologias como soldagem a laser e a incorporação de gemas sintéticas, tornando-se mais acessível ao público geral.
História da joalheria no Brasil: influências e legado cultural
A joalheria brasileira tem suas raízes nas influências indígenas e nas técnicas de ourivesaria trazidas pelos colonizadores portugueses. Durante o período imperial, o Brasil começou a se destacar na produção de joias com ouro e pedras preciosas, como diamantes, esmeraldas e topázio. A joalheria brasileira foi moldada pelas tradições europeias, mas também passou a refletir características regionais.
A contribuição dos povos negros escravizados foi fundamental no desenvolvimento da ourivesaria no Brasil. Os negros, que trabalharam em condições extremas, trouxeram suas habilidades artesanais e criativas para as oficinas de ourives, influenciando a joalheria colonial e imperial. Seu conhecimento ancestral foi essencial na mistura das técnicas africanas com as influências portuguesas e indígenas.
No século XX, o Brasil se consolidou como referência mundial na joalheria, com destaque para o uso de materiais locais e design inovador. Designers como H.Stern e Jack Vartanian se tornaram reconhecidos globalmente por suas peças sofisticadas, que mesclam tradição e modernidade.
Hoje, a joalheria brasileira continua evoluindo, com foco em design sustentável e o uso de novos materiais, reafirmando seu papel como expressão cultural e artística de grande valor.