Donald Trump não gostou da foto escolhida pela revista Time para ilustrar sua capa em uma edição especial sobre seu sucesso ao conseguir um acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas. Ele chegou a descrevê-la como “a pior de todos os tempos”.
Em postagem nas redes sociais nesta terça-feira (14), o presidente dos EUA criticou duramente a publicação, que o destacou com a manchete “Seu Triunfo”. Na foto, ele aparece de baixo para cima e ligeiramente à direita, com um close de sua orelha, bochecha, olho e narina direita.
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“A revista Time escreveu uma história relativamente boa sobre mim, mas a foto pode ser a pior de todos os tempos. Eles 'desapareceram' meu cabelo e ainda colocaram algo flutuando em cima da minha cabeça que parecia uma coroa flutuante, mas extremamente pequena. Muito estranho! Eu nunca gostei de tirar fotos de ângulos de baixo para cima, mas essa é uma foto super ruim e merece ser criticada. O que eles estão fazendo, e por quê?”, escreveu Trump.
Acordo de cessar-fogo histórico
A capa foi lançada no dia seguinte à libertação de 20 reféns israelenses, mais de dois anos após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023. Em troca, Israel libertou cerca de dois mil prisioneiros palestinos e os restos mortais de aproximadamente 360 palestinos, segundo autoridades.
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Ao longo do primeiro estágio do plano de paz de Trump, os reféns israelenses vivos mantidos em Gaza foram libertados, juntamente com a liberação de prisioneiros palestinos. O acordo pode se tornar uma conquista emblemática do segundo mandato de Trump e marcar um ponto de virada estratégico para o Oriente Médio.
Trump havia apresentado um plano de 20 pontos em 29 de setembro para encerrar a guerra entre Israel e Hamas, e o cessar-fogo entrou em vigor na última sexta-feira (10). O presidente foi recebido como um herói durante seu discurso na Knesset israelense antes de seguir para o Egito, onde participou de uma cúpula de paz com líderes de mais de 20 países.
“Nós alcançamos o que todos diziam ser impossível — finalmente, temos paz no Oriente Médio. Ninguém pensava que poderíamos chegar lá, e agora estamos lá”, proclamou Trump.
“O populismo é tudo sobre cabelo”
O destaque dado a Trump pela Time levanta uma questão curiosa: por que ele se preocupa tanto com sua aparência, especialmente com o cabelo?
Uma pista foi dada por Rory Stewart, ex-parlamentar britânico e ex-ministro conservador, em dezembro de 2023, durante o podcast The Rest Is Politics. Stewart explicou que, na última década, o cenário político global se encheu de populistas de extrema direita em busca de atenção, e que, nesse contexto, o penteado tem papel decisivo:
“O populismo é tudo sobre cabelo.”
Os exemplos são fartos. Na Argentina, Javier Milei, autoproclamado anarcocapitalista; na Holanda, Geert Wilders, líder anti-imigração do Partido pela Liberdade. Ambos homens de meia-idade da extrema direita têm cabelos abundantes que se tornaram parte de sua marca pessoal.
O estilo de Milei segue uma tradição: Boris Johnson, primeiro-ministro britânico da extrema direita entre 2019 e 2022, transformou sua cabeleira indomável em símbolo político. Ele entendeu que política é teatro, e que traços físicos ajudam a construir a imagem pública.
Nos EUA, o cabelo de Trump também é parte do branding político. Antes de assumir a presidência, ele já refinava sua imagem em colunas de fofoca e reality shows. O Washington Post chegou a listar “As 100 melhores descrições do cabelo de Donald Trump já escritas”, que iam de “boneco troll” a “vórtice gravitacional interdimensional”.
Políticos populistas usam o cabelo como marca visual e não hesitam em apostar no exagero para que seja reconhecível até por quem não acompanha política. A cabeleira se torna sinal de virilidade, masculinidade e identidade e reforça a conexão imediata com o público. Nesses casos, o cabelo é ferramenta de marketing político, impactante e memorável.
Na era das redes sociais, a presença visual se torna ainda mais importante. Em resumo, em tempos de política performativa, o cabelo deixa de ser apenas estética e se transforma em símbolo de identidade, poder e carisma para líderes populistas ao redor do mundo.
O cuidado extremo e o episódio da águia
O cuidado de Trump com a própria imagem não se limita ao cabelo. Em agosto de 2015, durante uma sessão de fotos para a Time, ele posou ao lado da águia careca “Uncle Sam”, símbolo nacional dos EUA, para reforçar o slogan Make America Great Again.
O que parecia ser apenas uma foto simbólica se transformou em um momento inusitado: a águia se agitou e tentou bicá-lo no rosto. O episódio, registrado em vídeo, viralizou rapidamente nas redes sociais, mostrando que, para Trump, até os imprevistos fazem parte do palco em que constrói sua imagem pública — e, claro, do cuidado com a presença de sua icônica cabeleira.
Fato ou fake? O cabelo de Trump
O cabelo de Trump sempre despertou curiosidade. Muitos questionaram se ele usava peruca ou procedimentos estéticos. Em 17 de maio de 2016, durante a campanha presidencial, Trump permitiu que a apresentadora Megyn Kelly tocasse seu cabelo, confirmando sua autenticidade:
“Eu passei as mãos nele pessoalmente. Não é uma peruca, nem um 'combover'. Eu enfiei minhas mãos lá embaixo, e aquilo é real.”
Assista ao relato da jornalista aqui.
Meses depois, o New York Times revelou que Trump toma Propecia, medicamento para queda de cabelo, além de antibióticos para rosácea. Harold Bornstein, médico de Trump desde 1980, confirmou que ambos usam o medicamento.
O cuidado extremo com o cabelo mostra como a imagem pessoal é central na construção de sua figura pública. Para Trump, o cabelo não é apenas físico: é símbolo de identidade, poder e autoridade, refletindo seu desejo de manter controle sobre como é percebido pelo público.
A crítica à capa da Time, no caso da “coroa flutuante”, mostra o quanto ele se importa com a forma como é retratado, especialmente em aspectos ligados à sua autopercepção de poder e controle.