CRIME FASHION

Herdeiro de rede de moda espanhola é investigado por morte do pai bilionário

Tribunal espanhol reabre o caso da morte de Isak Andic, fundador da marca de fast fashion Mango

Herdeiro de rede de moda espanhola é investigado por morte do pai bilionário.Tribunal espanhol reabre o caso da morte de Isak Andic, fundador da marca de fast fashion MangoCréditos: Shutterstock
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A rede de moda catalã Mango está no centro de uma polêmica que nada tem a ver com passarelas ou coleções, mas com uma suspeita de patricídio — o crime em que um filho mata o próprio pai.

O fundador da marca, Isak Andic, bilionário e um dos empresários mais influentes da indústria têxtil europeia, morreu em dezembro do ano passado, aos 71 anos, após cair de um desfiladeiro de cerca de 100 metros enquanto fazia uma trilha em Montserrat, região montanhosa próxima a Barcelona, acompanhado do filho, Jonathan Andic.

A tragédia, inicialmente tratada como um acidente, comoveu o mundo da moda e a política espanhola, gerando homenagens a um dos maiores nomes do varejo europeu. No entanto, o caso tomou um novo rumo quando o juiz responsável pela investigação alterou o status de Jonathan, que deixou de ser testemunha e passou a suspeito da morte do pai.

Investigações apontam contradições

Segundo informações divulgadas pelos jornais El País e La Vanguardia, a polícia catalã (Mossos d’Esquadra) passou a tratar o caso como possível homicídio. Fontes judiciais afirmaram que o relato de Jonathan sobre o ocorrido foi considerado “inconsistente”.

Além disso, Estefanía Knuth, namorada de Isak e jogadora de golfe, teria dito aos investigadores que “a relação entre pai e filho era ruim”.

O El País acrescenta que, embora nenhuma prova direta ou conclusiva tenha sido encontrada, a polícia identificou indícios que afastam a hipótese de acidente e levantam a possibilidade de crime intencional.

A defesa da família

Diante da repercussão, a família Andic divulgou um comunicado à imprensa, no qual declarou:

“A família Andic não comentou nem comentará sobre a morte de Isak Andic nestes meses. No entanto, deseja expressar seu respeito pelas investigações em andamento e continuará cooperando com as autoridades competentes, como tem feito até agora. Também confiam que o processo será concluído o quanto antes e que a inocência de Jonathan Andic será comprovada.”

Um porta-voz da Mossos d’Esquadra informou que a corporação não pode comentar o caso, pois ele segue sob investigação judicial. Já o serviço de tribunais da Catalunha afirmou que o processo é sigiloso e “não é — nem foi — dirigido contra nenhuma pessoa específica”.

Império fashion

Após a morte de Isak Andic, fundador da rede de moda catalã Mango, o império bilionário construído ao longo de quatro décadas passou por um processo de reorganização familiar que manteve o controle dentro da casa Andic.

Os três filhos do empresário — Jonathan, Judith e Sarah Andic — herdaram igualmente o legado do pai, incluindo participações acionárias e cargos estratégicos nos conselhos da Mango MNG Holding S.A.U. e da holding familiar Punta Na S.A.

Antes de falecer, Andic detinha cerca de 95% das ações da Mango, enquanto o CEO Toni Ruiz possuía os 5% restantes, como reconhecimento à sua atuação executiva.

Após a morte do fundador, Jonathan Andic foi nomeado vice-presidente da Mango e presidente da Punta Na Holding, responsável pelo controle do grupo. Já Judith e Sarah assumiram cargos de vice-presidência e direção corporativa, participando das decisões estratégicas da empresa.

A sucessão ocorre em meio à consolidação da Mango como uma das maiores redes de fast fashion da Europa. Em 2024, a empresa registrou receita de aproximadamente US$ 3,6 bilhões, crescimento de 7,6% em relação ao ano anterior, e anunciou a meta de ultrapassar US$ 4,3 bilhões até 2026.

De acordo com o relatório da consultoria Kantar BrandZ 2025, o valor da marca aumentou 26%, alcançando US$ 1,8 bilhão, enquanto a fortuna pessoal de Isak Andic era estimada pela Forbes em cerca de US$ 4,5 bilhões.

A transição de liderança marca o início de uma nova fase para o grupo, que tenta equilibrar o legado do fundador com os desafios de sustentabilidade, digitalização e expansão internacional, mantendo a Mango como um dos nomes mais fortes da moda global.

A trajetória de Isak Andic

Nascido em Istambul, Turquia, em 1953, em uma família judaico-sefardita, Isak Andic emigrou para a Catalunha, na Espanha, com seus familiares no fim da década de 1960 e começou vendendo camisetas a colegas de escola.

Com o tempo, passou a administrar um negócio de atacado e a vender roupas em feiras de rua, até abrir sua primeira loja Mango, em 1984, em Barcelona.

A marca rapidamente se expandiu pela Europa e consolidou um conceito simples e forte: usar o mesmo nome e estilo em todas as lojas. Essa estratégia transformou a Mango em uma das maiores varejistas de moda do continente, ao lado da Zara (Inditex) e da H&M.

A Mango: o império fashion catalão

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A Mango é uma multinacional espanhola de moda especializada em roupas, calçados e acessórios, baseada no conceito de “fast fashion premium” — coleções inspiradas nas grandes tendências internacionais, com design sofisticado e preços intermediários.

Com 2.600 lojas em 115 países, a empresa opera também um forte e-commerce internacional, com presença em cidades como Madri, Paris, Londres, Nova York e Dubai.

A marca chegou ao Brasil nos anos 2000, com lojas em shoppings de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, mas encerrou suas operações físicas por volta de 2013 devido a altos custos de importação e concorrência acirrada. Hoje, atua apenas via marketplaces internacionais, como Farfetch e Amazon, além do site global (mango.com).

Sustentabilidade e novas linhas

Nos últimos anos, a Mango tem investido em sustentabilidade e digitalização, com foco no uso de materiais reciclados, redução de emissões de carbono e produção ética. Criou ainda a linha Mango Committed, voltada à moda responsável.

A marca opera com quatro segmentos principais: Mango Woman (feminino), Mango Man (masculino), Mango Kids (infantil) e Mango Teen (adolescente).

Símbolo da moda espanhola

Com quase quatro décadas de história, a Mango tornou-se um símbolo da moda espanhola globalizada, unindo design europeu, produção eficiente e expansão internacional.

Apesar da crise familiar, o grupo segue entre os principais nomes do varejo mundial. O caso que envolve o herdeiro da marca mistura luxo, poder e mistério — e promete novos capítulos em meio à tentativa da família Andic de preservar a imagem de um império construído sobre o sucesso da moda catalã.

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