A trajetória de Victoria Beckham, 51, é um dos raros exemplos de reinvenção bem-sucedida no mundo das celebridades. Sua vida pública pode ser contada como uma sequência de quatro grandes capítulos, cada um com uma identidade própria — mas todos guiados pela mesma busca por autonomia e reconhecimento.
Nos anos 1990, ela surgiu como Posh Spice, a integrante mais sofisticada das Spice Girls, tornando-se ícone da cultura pop e símbolo de uma geração que cantava e vivia o lema do “girl power”.
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Já nos anos 2000, ao lado do marido, o astro do futebol David Beckham, transformou-se em uma celebridade global, referência de glamour e estilo na era das chamadas “WAGs” — sigla usada pela imprensa britânica para se referir às esposas e namoradas de jogadores famosos.
A partir de 2008, Victoria deu um salto decisivo e se firmou como designer de moda, conquistando respeito em um dos mercados mais competitivos do mundo. Aos poucos, deixou de ser vista como uma figura do entretenimento para se tornar uma criadora com credibilidade e voz própria no universo do luxo.
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Hoje, como empresária e influenciadora do século 21, Victoria revisita sua própria história na nova série documental da Netflix, consolidando o legado de uma mulher que soube se reinventar sem perder o controle da própria narrativa.
A série documental
A minissérie documental “Victoria Beckham”, lançada pela Netflix em 9 de outubro de 2025, apresenta a ex-Spice Girl sob uma nova luz. Em três episódios dirigidos por Nadia Hallgren, o público acompanha a trajetória de uma mulher que passou de ícone pop a designer de luxo, revisitando suas diferentes fases com honestidade, autoconsciência e controle narrativo.
Gravada entre 2024 e 2025, a produção mostra Victoria abrindo as portas de sua vida pessoal e profissional — do auge com as Spice Girls aos bastidores de sua marca de moda, passando pelos desafios de equilibrar carreira, maternidade e imagem pública.
O projeto, anunciado em agosto de 2024, combina intimidade e estratégia de imagem. A série aborda quatro eixos principais:
- a transformação de carreira, mostrando como Victoria deixou de ser “Posh Spice” para se afirmar como estilista e empresária do setor de luxo;
- as vulnerabilidades pessoais, em que ela reflete sobre pressão da mídia, autoestima e imagem corporal;
- a vida nos bastidores, com cenas de desfiles, reuniões e momentos em família;
- e, sobretudo, a construção de sua marca pessoal, explorando a passagem da cultura pop para o universo do design e dos negócios.
Para quem acompanha moda, é uma oportunidade de entender como uma celebridade tenta conquistar legitimidade em um setor tradicionalmente elitista. Para o público geral, é um retrato humano — e por vezes frágil — de uma mulher que passou metade da vida sob os holofotes e agora tenta contar sua própria história.
Embora a série adote um tom muito controlado, sugerindo que o documentário funciona também como uma ferramenta de marketing da marca Victoria Beckham, a produção se destaca pela qualidade visual, pela narrativa envolvente e pela capacidade de revelar — ainda que de forma calculada — o processo de reinvenção contínua de sua protagonista.
Das Spice Girls ao “girl power”
Antes de ser reconhecida como estilista e empresária, Victoria foi Posh Spice, sua identidade artística nas Spice Girls, o grupo feminino que revolucionou a música pop britânica dos anos 1990.
O apelido, que significa “a elegante” ou “a sofisticada”, foi criado pela revista Top of the Pops e combinava perfeitamente com sua personalidade — discreta, refinada e sempre impecável. Cada integrante do grupo tinha um papel bem definido: Mel B era a Scary Spice (a ousada), Mel C a Sporty Spice (a esportiva), Emma Bunton a Baby Spice (a meiga) e Geri Halliwell a Ginger Spice (a extrovertida).
Mais do que um sucesso musical, as Spice Girls se tornaram um símbolo de empoderamento feminino. Com sucessos como Wannabe, Say You’ll Be There e Spice Up Your Life, o quinteto difundiu o lema do “girl power”, celebrando a independência, a amizade e a confiança das mulheres em um mundo ainda dominado por homens. Com seu estilo elegante e postura reservada, Victoria já mostrava o olhar apurado para a moda que guiaria sua transformação futura.
Da Posh Spice à era das WAGs
Nos anos 2000, com o casamento com David Beckham, Victoria entrou em uma nova fase de sua vida pública. Foi quando surgiu o termo “WAGs” (Wives and Girlfriends), usado pela mídia para descrever as companheiras dos jogadores de futebol da seleção inglesa — mulheres que passaram a ser tratadas como celebridades por direito próprio.
Victoria se tornou o símbolo máximo dessa era: fotografada em desfiles, eventos e capas de revistas, ditava tendências de beleza e comportamento, e representava o glamour da cultura pop britânica.
Mas o rótulo de “WAG” também tinha um lado negativo — muitas vezes, era usado de forma pejorativa, como se essas mulheres existissem apenas à sombra dos maridos.
Determinada a mudar essa percepção, Victoria começou a reconstruir sua imagem pública, investindo em sua própria marca e carreira. Esse processo culminou em 2008, com o lançamento de sua primeira coleção como designer, que marcou o início de uma nova e respeitada fase: a de criadora de moda de prestígio internacional, que finalmente conquistou o reconhecimento pelo próprio mérito.
A trajetória de Victoria Beckham na moda
Ao longo de mais de duas décadas, Victoria Beckham construiu uma das carreiras mais consistentes da moda contemporânea. Sua evolução reflete a busca por autonomia e credibilidade, afastando-se da imagem de “celebridade estilosa” para afirmar-se como criadora reconhecida internacionalmente.
Nos anos 1990, ainda como Posh Spice, a integrante mais sofisticada das Spice Girls, Victoria já cultivava o olhar apurado que marcaria sua identidade futura. O apelido resumia seu estilo: vestidos pretos, saltos altos e postura confiante. Em 1999, o casamento com David Beckham projetou-a como ícone de moda e símbolo de glamour da virada do milênio.
Com o fim do grupo, entre 2000 e 2006, ela transformou o interesse pessoal em vocação profissional. Estrelou campanhas para Dolce & Gabbana e Versace, lançou a linha de jeans VB Rocks com a Rock & Republic e criou a dVb Style, dedicada a óculos e perfumes — primeiros passos rumo à criação autoral.
A consolidação veio em 2008, com o lançamento da marca Victoria Beckham na New York Fashion Week. A coleção, composta por dez vestidos de corte preciso e estética minimalista, surpreendeu críticos e marcou sua entrada definitiva no design de luxo. Em 2011, recebeu o prêmio de Designer do Ano no British Fashion Awards, selando o reconhecimento profissional.
De 2012 a 2016, a marca se expandiu: abriu ateliê em Londres, lançou a linha acessível Victoria by Victoria Beckham e conquistou espaço em mais de cem butiques de luxo. Nesse período, firmou seu estilo característico — formas estruturadas, paleta neutra e elegância discreta.
Entre 2017 e 2019, uniu moda e beleza. Em parceria com a Estée Lauder, lançou uma coleção de maquiagem e comemorou dez anos da grife com desfile marcante na London Fashion Week. Em seguida, apresentou a Victoria Beckham Beauty, linha de cosméticos veganos e sustentáveis, ampliando seu alcance no mercado.
Os anos 2020 foram de maturidade criativa. A pandemia a levou a repensar custos e priorizar o essencial. Em 2022, reforçou o compromisso com a sustentabilidade e, em 2023, apresentou uma coleção masculina cápsula em Paris. O ano seguinte consolidou sua fase mais ousada, elogiada pela crítica internacional.
Em 2025, sua trajetória ganhou novo olhar com a série documental da Netflix, que revela bastidores e mostra a construção paciente de uma carreira pautada por trabalho e reinvenção.
Hoje, Victoria Beckham representa a sofisticação silenciosa: cortes limpos, cores neutras e design que traduz equilíbrio entre força e delicadeza. Mais do que estilista, tornou-se um símbolo de disciplina e transformação, exemplo de quem transformou fama em legitimidade e fez da moda um espelho de sua própria evolução.
Confira o trailer