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A virada da moda chinesa: Xangai assume o protagonismo global com desfile histórico da Adidas

Na Shanghai Fashion Week 2025, a China deixa de ser apenas a “fábrica do mundo” para afirmar-se como potência criativa. O megadesfile da Adidas simboliza o novo eixo da moda: do Ocidente para o Oriente

A virada da moda chinesa: Xangai assume o protagonismo global com desfile histórico da Adidas.Na Shanghai Fashion Week 2025, a China deixa de ser apenas a “fábrica do mundo” para afirmar-se como potência criativa. O megadesfile da Adidas simboliza o novo eixo da moda: do Ocidente para o OrienteCréditos: Adidas
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Depois de conquistar Paris, a moda chinesa volta para casa com status de estrela. A Shanghai Fashion Week 2025 confirmou o que o mundo da moda já percebeu: a China não é mais coadjuvante, mas protagonista criativa de uma nova era. O país que durante décadas vestiu o planeta agora dita tendências, inspira desejo e redefine os códigos estéticos globais.

Um dos momentos mais marcantes da temporada foi o megadesfile da Adidas, realizado em 20 de outubro de 2025, no histórico Antigo City Hall de Xangai, em celebração aos 20 anos do Shanghai Creation Centre, o centro criativo da marca na cidade.

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A coleção — criada exclusivamente para o público chinês e não disponível no Ocidente — simbolizou uma virada de eixo: a moda chinesa deixa de buscar validação no exterior e passa a impor estilo, ritmo e referência.

Tradição e inovação no mesmo palco

A apresentação uniu símbolos culturais chineses e design esportivo contemporâneo. Jaquetas Tang ganharam nova vida com camurça e as icônicas três listras; ternos foram repaginados com cortes esportivos e o streetwear asiático apareceu em jeans largos e sobreposições técnicas.

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O encerramento foi apoteótico: a supermodelo He Cong desfilou com um vestido de cinco metros de comprimento, estampado com os códigos visuais da Adidas e combinado com o novo tênis Futurecool X. Ambos ficaram disponíveis imediatamente após o evento, no modelo see now, buy now, que vem transformando o consumo de moda.

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O “Poder do Três”

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Batizado de “The Power of Three”, o desfile foi dividido em cinco atos, misturando música, performance e moda. A violoncelista Ouyang Nana apresentou-se ao vivo enquanto dançarinos encenavam uma batalha coreografada que simbolizava a energia da nova geração criativa chinesa.

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O símbolo das três listras foi explorado em todos os detalhes: três passarelas, três fachos de luz, três sabores de macarons e uma mensagem clara — a Adidas consolidou Xangai como um polo criativo global. O encerramento reuniu toda a equipe criativa com camisetas escritas “Adidas Design Team”, em um gesto de celebração coletiva.

Moda para ver e comprar na hora

O evento seguiu o formato “see now, buy now”, permitindo que os produtos fossem adquiridos instantaneamente na Tmall, no app Adidas Confirmed e nas lojas-conceito de Xangai, Chengdu e Pequim, incluindo o Beijing Sanlitun Brand Centre.

O sucesso reflete o momento da marca: segundo a Adidas, as vendas na Grande China cresceram 13% no primeiro semestre de 2025, impulsionadas pelas linhas Originals e lifestyle esportivo. Ainda assim, a empresa reconhece que o consumo interno segue cauteloso, em sintonia com o cenário econômico chinês.

Quando o Ocidente olha para o Oriente

A Shanghai Fashion Week tornou-se palco de expansão para marcas ocidentais. A Lululemon realizou um evento de bem-estar antes da abertura da semana, enquanto Nike e Moncler apostaram em desfiles nas temporadas anteriores.

Desde 2023, sob a liderança do CEO Bjørn Gulden, a Adidas adotou o lema “marca global, mentalidade local”. Isso deu autonomia à equipe chinesa para criar com liberdade estética, refletindo a cultura e o ritmo do público local.

O novo consumidor chinês

Segundo Patrick Ng, vice-presidente sênior da Adidas na Ásia-Pacífico, o sucesso da marca não depende de nacionalismo, mas de entendimento real do consumidor.

“Os chineses não compram pela origem da marca, e sim pelo que ela entrega”, afirmou à Vogue Business.

Esse público é exigente, informado e conectado, atento à tecnologia e à qualidade. Durante a pandemia, muitos se tornaram especialistas em tecidos técnicos, o que impulsionou marcas como a Lululemon, cuja receita na China cresceu 41% em 2024. Já as marcas locais, como Li Ning e Anta, avançaram com agilidade e inovação, mostrando que o mercado chinês é dinâmico e competitivo.

O papel do Centro Criativo de Xangai

O Shanghai Creation Centre é hoje o coração criativo da Adidas na Ásia. A proximidade com polos industriais como Shenzhen e Guangzhou permite lançar produtos rapidamente, com adaptação ao gosto local sem perder a identidade global.

“Nosso papel é usar a força da história da Adidas — 75 anos — e entender o contexto local”, disse Ng.

Ele explica que a marca não tenta parecer chinesa, mas respeitar a cultura e traduzir o estilo de vida do país em design. Essa é a chave para o sucesso de Xangai como novo eixo da moda.

Criatividade e formação de talentos

Após o desfile, o espaço foi transformado em um hub de moda aberto ao público, entre 17 e 19 de outubro, com a mostra “A 20-Year Journey of Chinese Street Culture”, em parceria com a Hypebeast. O evento reuniu arquivos históricos, experiências imersivas e homenagens à cultura urbana chinesa.

Para Ng, mais do que um espetáculo comercial, o projeto foi um convite à nova geração de criadores.

“Muitos talentos chineses estudam fora e não voltam. Queremos mostrar que aqui também há espaço para inovar e crescer. Vendas são importantes, mas este desfile é sobre imaginação e possibilidades. A China é um lugar onde as pessoas sempre esperam algo novo — e a Adidas precisa acompanhar esse ritmo”, concluiu.

A Shanghai Fashion Week 2025 não foi apenas um evento de moda, mas um símbolo de transição cultural e econômica. Com Xangai no centro das atenções, a China assume o papel de motor criativo do século 21, combinando tradição, tecnologia e visão de futuro. O que antes era chão de fábrica, agora é passarela — e o mundo inteiro está olhando para ela.

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