Sob gritos de Fora Bolsonaro, indígenas queimam caixão em frente ao Planalto

Mais de 6 mil indígenas estão mobilizados em Brasília contra o Marco Temporal

Foto: Matheus Veloso/Mídia Ninja
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Os povos indígenas que estão mobilizados no acampamento "Luta pela Vida" realizaram um ato simbólico nesta sexta-feira (27) contra a agenda do governo de Jair Bolsonaro. Mais de 6 mil indígenas de 176 povos incendiaram um enorme caixão em frente ao Palácio do Planalto.

“Ecocídio”, “marco temporal não”, “não é só um vírus”, “fora garimpo”, “fora grilagem” e “condenação ao genocida” eram algumas das mensagens escritas no caixão simbólico. Projetos de lei que atacam os direitos indígenas também foram lembrados.

A queima do caixão aconteceu sobre gritos de “Fora Bolsonaro, genocida!”. Segundo informações da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), com Bolsonaro, as demarcações retrocederam. Somente em 2020, pelo menos 27 procedimentos administrativos de regularização de terras indígenas que aguardavam o Ministério da Justiça foram devolvidas à Funai para serem revisadas com base na tese do marco temporal.

Bolsonaro contra indígenas

Se não são novidade os ataques de Bolsonaro ao direitos indígenas, diante dos atos contra o marco temporal, o presidente usou a live semanal para disparar acusações e defender os interesses do agronegócio. Bolsonaro defendeu a tese dos ruralistas de que os povos originários só teriam direito à demarcação das terras que estivessem em sua posse até a promulgação da Constituição de 1988 – o chamado marco temporal.

“Podemos ver dobrar a quantidade de terras indígenas, isso vai causar sérios transtornos. Vamos ter problema na balança comercial e a inflação de alimentos, que sim existe, vai aumentar. E ainda pior, pode ter desabastecimento”, afirmou na quinta-feira (26). O presidente não apresentou dados sobre a isso.

O chefe do Executivo disse ainda que os manifestantes eram "massa de manobra". Nesta sexta, ele voltou a atacar: "“Este tipo de gente quer voltar ao Poder com ajuda daqueles que censuram”. O presidente não gostou do ato da queima do caixão.

Indígenas seguem mobilizados

Cerca de 6 mil indígenas de mais de 170 povos ocupam Brasília desde domingo (22) contra ação judicial que pode afetar demarcação de diversas TIs. A luta contra o Marco Temporal promoveu a maior mobilização indígena pós-constituinte.

O acampamento “Luta Pela Vida” conta com intensa programação de plenárias, segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Com o lema “Nossa história não começa em 1988”, a mobilização tem como principal objetivo impedir a aprovação do Marco Temporal. Saiba como ajudar o acampamento.

Marco Temporal

Após a votação prevista para esta quinta ser adiada, o STF vai analisar na próxima quarta-feira (1º) ação de reintegração de posse movida pelo governo de Santa Catarina contra o povo Xokleng, da TI Ibirama-Laklãnõ. O tema, no entanto, tem “repercussão geral” e servirá de diretriz para todos os procedimentos demarcatórios. Caso o STF vote pela reintegração, vai sustentar uma tese defendida por ruralistas de que os povos indígenas só teriam direito à demarcação das terras que estivessem em sua posse até a promulgação da da Constituição – ou seja, a tese do Marco Temporal.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) afirma que “tese é injusta porque desconsidera expulsões, remoções forçadas e todas as violências sofridas pelos indígenas até a promulgação da Constituição”. “Além disso, ignora o fato de que, até 1988, eram tutelados pelo Estado e não podiam entrar na Justiça de forma independente”, diz.