SP terá ato contra aumento da conta de luz: "Famílias deixam de comer para não ficar no escuro"

Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) denuncia tarifa abusiva de energia imposta pelo governo federal em meio à crise social e econômica

Famílias pobres são as que mais sofrem com o aumento da tarifa de energia (Foto: MAB)
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Em meio à crise econômica, o agravamento da fome e os sucessivos aumentos nos preços de combustíveis, gás e alimentos, o governo Bolsonaro, no início de setembro, impôs um novo aumento na tarifa de energia elétrica, sob a justificativa da crise hídrica - apesar de especialistas apontarem que o governo federal já havia sido alertado sobre a escassez e possibilidade de apagões e nada fez.

Este cenário tem deixado famílias que já eram vulneráveis em situação insustentável e, pensando nisso, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) promoverá manifestações em São Paulo, na próxima semana, contra as tarifas abusivas de energia elétrica.

Serão dois atos: nas agências ENEL Distribuição São Paulo localizadas em Santo Amaro e São Miguel Paulista.

"A reivindicação organizada pelo MAB denuncia os altos preços da energia elétrica, que têm afetado principalmente a população de baixa renda. Os paulistanos têm relatado que desde julho de 2020 têm sofrido grandes aumentos nas tarifas, chegando contas de mais de R$1.000,00 para famílias de baixa renda. Só no mês citado, o Procon recebeu mais de 40 mil reclamações de usuários. No entanto, a empresa apenas tem oferecido o parcelamento do pagamento, sem explicar as causas do aumento nem realizar a devolução do dinheiro", diz comunicado do movimento.

Com a nova bandeira tarifária implementada pelo governo federal, houve aumento de R$ 14,20 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumido, impactando o orçamento das famílias.

"Muitas das famílias comentam que, com o aumento das tarifas, têm deixado de comer para 'não ficar no escuro'", relata o MAB.

Nas manifestações, o movimento social pretende ainda denunciar que muitas famílias têm direito à Tarifa Social de Energia Elétrica (TSEE) e não a acessam. Segundo dados do Ministério de Desenvolvimento Social, são 1.748.580 de famílias no estado de São Paulo que tem esse direito, sem efetivação do mesmo.

"Assim, dentre várias pautas o ato visa: rever os aumentos do preço da luz; a devolução do dinheiro ao povo atingido pelas tarifas abusivas; que não seja permitido o corte da energia, nos casos das famílias que não tenham condição de pagar, ou estejam inadimplentes; o cumprimento da lei que dá o direito de acesso automático à Tarifa Social de Energia Elétrica para a população de baixa renda; a isenção da tarifa de energia para todas as famílias cadastradas no CadÚnico até o final da pandemia; e um preço justo de energia para toda a população", explica a entidade.

Os atos serão realizados na próxima segunda-feira (27), a partir das 10h na agência da Enel em Santo Amaro e às 9h30 na Praça do Forró, em São Miguel Paulista.

Nova bandeira tarifária

A conta de luz está mais cara desde o dia 1º de setembro. O governo reajustou a bandeira tarifária que cobrava R$ 9,49 por cada 100 kWh consumidos, passando o valor para R$ 14,20. A alta é de 49,6%.

No mês de junho a energia elétrica já havia sofrido um forte reajuste de mais de 50%, passando de R$ 6,24 por cada 100 kWh para os atuais R$ 9,49. Segundo a Aneel, o aumento que entrará em vigor a partir de amanhã (1°) elevará em média 6,78% as contas dos consumidores domésticos no país, embora o percentual varie de acordo com o local do fornecimento. Na região metropolitana de São Paulo, a Enel, concessionária responsável pela distribuição de luz, no último aumento, em junho, subiu a tarifa acima da média nacional, impondo aos paulistas que vivem na Grande São Paulo um reajuste de 11,58% na ocasião.

Inflação nas alturas

Os gastos dos brasileiros só têm aumentado durante o governo Jair Bolsonaro. Para se ter uma noção do descontrole dos preços, só em agosto, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) marcou 0,89%, o maior desde 2002, além de 9,3% no acumulado dos últimos 12 meses. Vivem em condições precárias por conta da perda de poder de compra, a população com menor renda vem deixando de comer arroz, feijão, carne, peixe e outros itens.

Os números da alta de preços são impressionantes: 12,29% nos ovos, 17,15% no café; 31,31% nas carnes, 36,89% no arroz, 78,75% no óleo de soja, 31,11% no gás de cozinha, 39,12% na gasolina, 52,77% no etanol e 20,86% na conta de luz, resultando num aumento de 33% no gasto geral dos trabalhadores.