VIOLÊNCIA

Justiça do DF manda fazendeiros desbloquearem ocupação sob risco de incêndios

As 300 famílias acampadas viraram reféns do bloqueio de grileiros, com tratores e camionetes, deixando os integrantes do MST sem água e comida

As famílias estão isoladas no acampamento.Créditos: Janelson Ferreira
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Após serem privadas, inclusive de água e alimentos por ações violentas de grileiros, as 300 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que acampam na ocupação Ana Primavesi, no núcleo rural Rio Preto, em Planaltina, Distrito Federal (DF), conseguiram uma vitória.

A Justiça do DF concedeu liminar, nesta quinta-feira (5), para que fazendeiros desbloqueiem a via que dá acesso à ocupação. A ação truculenta dos grileiros, fazendo um cerco às famílias sem-terra, com tratores e camionetes, foi em represália à montagem do acampamento.

A decisão de desobstruir o acesso à ocupação é do juiz Carlos Frederico Maroja de Medeiros, da Vara de Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Fundiário do DF.

Ele destacou que nenhum particular tem direito de bloquear vias de circulação, limitando o direito de ir e vir. Ele estabeleceu prazo de até 72 horas para que as autoridades policiais façam o desbloqueio do acesso, segundo informações de Pedro Rafael Vilela, no Brasil de Fato.

Sem solução para o conflito agrário, desde quarta-feira (4), grileiros estão ateando fogo contra as famílias acampadas, que já contabilizam vítimas que sofreram queimaduras e ferimentos devido aos ataques.

De acordo com denúncia de integrantes da ocupação, a polícia está no local, mas não presta socorro ao acampamento, que está sendo destruído pelas chamas.

A ocupação está localizada em uma área pública não regularizada, alvo de especulação imobiliária, onde as famílias sem-terra denunciam a violência e exigem a retomada da política de Reforma Agrária no Distrito Federal.

“Há anos essas fazendas são exploradas e vendidas ilegalmente por setores do agronegócio”, diz dirigente do MST

Adonilton Rodrigues, da direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Distrito Federal, relata que a área em questão faz parte de um complexo de médias fazendas, todas em áreas públicas vinculadas à Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap), empresa estatal do governo federal e do governo do DF.

Há anos essas fazendas são exploradas e vendidas ilegalmente por setores do agronegócio da região, cumprindo um papel que estimula a grilagem de terras públicas no DF”, afirma Rodrigues.

“Mesmo com o MST buscando uma negociação junto ao governo para resolver a questão, os fazendeiros seguem com os ataques”, denuncia a direção do MST no DF. O movimento pede urgência aos órgãos competentes para que os criminosos parem os ataques.

A ocupação Ana Primavesi faz parte da Jornada Nacional de Luta em Defesa da Reforma Agrária, que, em 2022, traz o lema “Reforma Agrária Popular: por terra, teto e pão”. O nome da ocupação é uma homenagem à agrônoma austríaca radicada no Brasil e que foi uma importante pesquisadora da agroecologia e da agricultura orgânica. Ana Primavesi morreu em 2020, aos 99 anos.