ADOÇÃO

Caso Carol Nakamura: “Adoção foi irregular e expôs a criança”, diz Gabi Oliveira

Segundo a influencer, que adotou dois filhos, Carol Nakamura tinha apenas a guarda do menino de 12 anos, que quis voltar para a mãe biológica. “Não se pode sair para uma ação social e voltar com uma criança”

Créditos: Redes sociais/Reprodução
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A youtuber e influencer Gabi Oliveira explicou por que o caso de Carol Nakamura que ganhou repercussão nos últimos dias foi um erro, tanto do ponto de vista dos processos que envolvem a adoção de uma criança, como do ponto de vista do psicológico e dos afetos. “Adoção não é caridade. Você não pode pegar uma criança e colocar na sua casa, pode causar complicações e confusão inclusive para a criança”, diz Gabi.

Em uma série de publicações no Instagram, Nakamura, que tem mais de 2 milhões de seguidores, contou que o filho “adotivo” de 12 anos havia decidido deixar sua casa e voltar para a família biológica, porque, como pré-adolescente, não queria ir pra escola e estaria incomodado com as regras da “nova casa”. Segundo a atriz, o menino estava muito “safado” e “sem vergonha” e teria optado por voltar para a mãe biológica no lixão do Gramacho, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

"O W. estava safado, não tem outra palavra para dizer por que ele já tinha entendido que eu não tinha a guarda dele. Então, se a gente brigasse ou colocasse de castigo por alguma coisa que ele fez de errado, ou chamasse atenção, ele queria ir para a casa da mãe. Chegava na casa da mãe, se a mãe fizesse o mesmo, ele queria voltar para cá, e nisso ele ia faltando na aula. Ele estava, não tem outra palavra, sem vergonha. E ele tinha que tomar uma decisão."

Carol Nakamura e o marido, Guilherme Leonel, conheceram o menino W. durante uma ação social que faziam no lixão, e se depararam com a situação de vulnerabilidade da criança, com 9 anos, que nem frequentava a escola. Foi então que decidiram “pegar o menino pra criar”.

Adoção x guarda da criança

A influencer Gabi Oliveira que adotou duas crianças recentemente explica que o que Carol fez não foi um processo de adoção. “Existe uma confusão entre o processo de guarda e o processo de adoção. A Carol estava com a guarda da criança, que pode sim ser entregue, por exemplo, para um familiar cuidar do seu filho, enquanto você está passando por uma situação difícil e precisa que alguém cuide por um período de tempo. Você pode dar a guarda para uma tia, um tio, que vai passar um período com o seu filho. Mas essa criança não deixa de ser o seu filho ou sua filha.”

Mas então como a Carol Nakamura levou a criança? Segundo Gabi Oliveira, a atriz pulou o processo de adoção que é bem diferente de guarda. “Na adoção uma mãe ou um outro pai ou os dois, uma criança precisa de uma outra família porque a família de origem não está presente, porque alguém faleceu ou porque a família de origem não tem condições. A Justiça percebe que a família de origem não tem condições de criar aquela criança com os direitos básicos de educação, alimentação, etc, e aí a Justiça encaminha aquela criança para a adoção.”

O garoto W. não estava em um abrigo. De acordo com Gabi, o que ocorreu foi uma “entrega direta” da criança, ou seja, a família, passando por uma dificuldade entrega a criança, o que é combatido pela Justiça. “Isso é inseguro para todo mundo, pode facilitar abuso infantil, tráfico de criança. Imagina se toda família pudesse simplesmente entregar uma criança sem nenhuma avaliação para outra pessoa, sem nenhuma investigação sobre a outra pessoa, sem saber o que vai fazer com a criança. Você não pode fazer uma ação social e voltar com uma criança. Crianças que estão disponibilizadas para adoção estão abrigadas, se a família está com a sua família de origem ela não está para a adoção.”

O correto seria chamar o Conselho Tutelar

No caso de encontrar uma criança sem ir pra escola, o certo é chamar o Conselho Tutelar para que os conselheiros investiguem a situação da criança. “Não achou que é suficiente? Você pode fazer um apadrinhamento, inclusive familiar. Fornecer melhores condições para aquela família. Porque sim, gente, pobres e pessoas em situação de vulnerabilidade, miseráveis, também têm afetos pelos seus filhos.”

Outro ponto que Gabi Oliveira chama a atenção foi a exposição exagerada da imagem da criança. Uma página no Instagram foi criada para o garoto com a descrição “do lixão para o mundo”. Gabi alerta que as crianças precisam ter seus direitos, sua história e sua imagem preservadas. Diante de uma tentativa irregular de adoção, para Gabi, o casal “não tem direito à imagem dessa criança porque não estava com o processo de adoção finalizado”. “Estão expondo indevidamente a história e a imagem da criança desde o dia que pegaram até agora, que, por frustração, começaram a expor a história.”

Gabi conta que antes de concluir o processo de adoção de seus dois filhos, passou por um curso preparatório, onde se discute os desafios que cuidar de uma criança implica e evita frustrações como a que viveu Carol Nakamura.

Uma criança só pode ser chamada de “filho adotivo” após todo o trâmite de adoção ter sido finalizado. Para adotar uma criança deve-se recorrer ao Sistema Nacional de Adoção.

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