Incêndio da Boate Kiss completa 100 meses sem julgamento dos réus: “Dor insuportável”, diz pai que perdeu o filho

Para Paulo Carvalho, julgamento será importante para que as pessoas tomem consciência e que não ocorram outras tragédias por “descaso, negligência e irresponsabilidade”

(Foto: Fernando Frazão/Arquivo Agência Brasil)
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Após 8 anos, o júri dos quatro réus apontados como responsáveis pelo incêndio da boate Kiss, que deixou 242 mortos e mais de 600 feridos finalmente teve sua data marcada. O julgamento será realizado em 1º de dezembro deste ano conforme despacho do juiz Orlando Faccini Neto. O júri será nas dependências de um plenário que está em fase de construção no 2º Juizado da 1ª Vara do Júri da Comarca de Porto Alegre.

Os empresários e sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, e os músicos da Banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, respondem por homicídio.
Para Paulo carvalho, que é diretor jurídico da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, e era pai de Rafael Paulo Nunes de Carvalho, 32, a dor da perda é muito difícil, mas a impotência e a injustiça causaram ainda mais dor “àquela que já era insuportável”.

Em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia desta terça-feira (1º), Carvalho explicou que o que as famílias esperam é que haja justiça para que tragédias como a que ocorreu naquele 27 de janeiro de 2013 não se repitam.

“As pessoas precisam tomar consciência sobre o que aconteceu e que podem acontecer outras tragédias com seus filhos. A reparação que nós queremos é um sentimento de que não tenha sido em vão”, diz. De acordo com Carvalho, não é uma questão financeira, de indenização. “Essa punição que deve haver é para trazer essa consciência para a população. E que aqueles meninos e meninas não morreram em vão. Que sirva de exemplo para outros irresponsáveis, que eles tenham receio de liberar locais sem alvará de funcionamento.”

Segundo o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RS), Luiz Alcides Capoani, uma série de erros e irregularidades levaram à tragédia. Bombeiros chegaram a ser condenados por autorizarem um alvará irregular para o estabelecimento.

“O Estado brasileiro tem que responder, sabia que a boate estava irregular e mesmo assim permitiu que continuasse funcionando. É uma tragédia que podia ter sido evitada, se o poder público, os proprietários e os músicos tivessem cumprido suas obrigações, suas responsabilidades. Isso ocorre não só lá, como em tantas outras tragédias, como em Brumadinho, no CT do Flamengo. Negligência, descaso e irresponsabilidade.”

Assista à entrevista na íntegra a partir do minuto 1:09:01

https://youtu.be/KZ0Njky108A