“Ele vai contra o ensinamento de Cristo”, diz padre ameaçado sobre Bolsonaro

Lino Allegri, sacerdote da Paróquia da Paz, em Fortaleza (CE), que passou a ser atacado por seguidores do presidente, deu entrevista à agência italiana ANSA e falou sobre as intimidações que vem sofrendo

Foto: Padre Lino Allegri (Redes sociais/Reprodução)
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Vítima de ataques, intimidações, ameaças e da fúria de bolsonaristas desde uma missa no último dia 4 de julho, quando falou que o presidente era responsável pelos mais de 540 mil mortos pela pandemia da Covid-19 no Brasil, o padre Lino Allegri, responsável pela Paróquia da Paz, em Fortaleza (CE), deu entrevista à agência italiana de notícias ANSA.

O sacerdote, que tem 82 anos, nasceu na Itália e vive no Brasil desde 1970, cinco anos depois de ter sido ordenado padre num seminário de Trento. Por aqui, Allegri já foi pároco em Bom Jesus da Lapa (BA) e há anos está na capital cearense, onde desenvolveu uma rede de pastorais sociais em comunidades de base para estar, segundo ele, “em meio ao povo”.

Allegri conta que após o episódio, adeptos do bolsonarismo têm ido à igreja, usando camisas nas cores verde e amarela, para provocá-lo, assim como aos frequentadores do templo. No entanto, na missa dominical na qual falou as palavras contra Bolsonaro as ações do grupo foram mais agressivas.

Um grupo composto por sete mulheres e um homem teria entrado na sacristia aos berros, dizendo que Allegri era um comunista, esquerdopata, petista e lulista, aconselhando o padre a “voltar à Itália”, insistindo que o presidente brasileiro é um “bom cristão”.

Desde então, o sacerdote não voltou mais a celebrar missas na Paróquia da Paz, mas tomou conhecimento do caso do bolsonarista que, na missa do domingo seguinte, levantou-se do banco para gritar impropérios após uma nota da CNBB sobre o episódio ser lida pelo religioso que o substituiu. O público presente na igreja acabou por enxotar o fanático seguidor do líder extremista.

Para Allegri, a forma como Bolsonaro se porta e as coisas que faz e diz não tem nenhuma relação com a doutrina ensinada por Jesus.

“Ele vai totalmente contra aquilo que é o ensinamento de Cristo. Não é parcialmente, não, é totalmente. Ele é católico quando interessa, evangélico quando interessa, não está respeitando as religiões”, disparou o padre à reportagem da ANSA.