Checagem do Comprova não é sobre matéria da Fórum e induz leitor ao erro

Iniciativa que analisa notícias para detectar fake news checou um site desconhecido, que adulterou as informações originais da Fórum sobre os 100 marechais do Exército, criando confusão para quem lê

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Foram divulgadas nas últimas horas em vários sites jornalísticos (entre eles UOL, Estadão, Estado de Minas e Folha de S.Paulo) uma ação de checagem realizada pelo Projeto Comprova sobre um caso originalmente publicado pela Fórum, em 4 de agosto, que revelava a existência de 100 oficiais generais do Exército Brasileiro que constam como marechais (cargo inexistente no hierarquia militar do país) no Portal da Transparência. No entanto, a checagem NÃO É REFERENTE À REPORTAGEM DA FÓRUM.

Não se sabe por qual razão, os investigadores do Projeto Comprova se basearam numa postagem realizada por um site desconhecido, chamado Boletim do Brasil, que ao republicar as informações inéditas da Fórum adulterou boa parte dos fatos, dando margem para ser desmentido por organizações que combatem fake news nas redes.

Realmente, as informações checadas pelo Projeto Comprova que estavam disponíveis no tal site são falsas, assim como também é verdadeiro o fato de que a agência de checagem não tomou a reportagem original da Fórum como ponto de partida para comprovar eventuais incoerências ou inverdades. A confusão promovida pelo Projeto Comprova ao selecionar o que deveria ser analisado fez com que leitores questionassem a credibilidade das informações apuradas e trabalhadas por nossa reportagem.

A seguir, veja o teor do que foi publicado pelo Projeto Comprova e os devidos esclarecimentos que mostram que as informações desmentidas não têm qualquer relação com a matéria exclusiva da Fórum que teve grande repercussão no Brasil e até no exterior.

Informações do Projeto Comprova:

"No Facebook, o autor do conteúdo o compartilhou com legenda questionando "Sabia que marechais são nomeados em tempos de guerra?", dando a entender que Bolsonaro estaria se preparando para um confronto, conforme interpretaram vários usuários no grupo de apoio à reeleição onde foi feita a postagem. Nos comentários, grande parte apoiou uma intervenção militar contra o Supremo Tribunal Federal"

* Esclarecimento: A reportagem da Fórum nunca deu tal informação.

"Utilizando o Google, (o Projeto Comprova) pesquisou diferentes termos combinados para tentar identificar nomeações realizadas por Jair Bolsonaro, associando o nome do presidente à palavra marechal e a nomes que aparecem na lista. A ação foi repetida utilizando o nome do ministro da Defesa, Walter Souza Braga Netto, e o mesmo método foi utilizado no campo de busca do Diário Oficial da União e na plataforma de Acesso à Informação. Nenhum documento neste sentido foi localizado. Publicações na imprensa também foram consultadas"

* Esclarecimento: A reportagem da Fórum não informou que as nomeações foram feitas por Bolsonaro ou por Braga Netto.

Trechos originais da reportagem da Fórum que comprovam tal fato:

("Foi a partir de uma Lei Federal que entrou em vigor em 2019, de número 13.954, que dispõe sobre questões previdenciárias dos militares e que não revogou o ordenamento jurídico anterior, que aparentemente esses generais passaram a figurar como marechais. Não se sabe qual foi a interpretação dada pelo governo federal para proceder com tais promoções, até porque o Ministério da Defesa não esclarece as circunstâncias dessas mudanças na hierarquia, tampouco a data em que elas ocorreram.")

("Entre os generais elevados a tal posto, que não existe mais, exceto em casos de campanha, estão Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) do governo Bolsonaro, os ex-comandantes do Exército Edson Leal Pujol e Eduardo Villas Bôas, além de Sérgio Etchegoyen, que ocupou também o GSI, mas na gestão de Michel Temer. Enzo Peri e Francisco Roberto de Albuquerque, ex-chefes máximos da maior organização militar brasileira durante os governos Lula e Dilma Rousseff, são outros que engrossam a lista de marechais.")

Conclusões

1 – O Projeto Comprova, ao checar uma informação falsa de um site pouco conhecido e que remetia a um levantamento verdadeiro (adulterado), originalmente publicado pela Fórum, ainda que não a mencione, faz com que leitores sejam induzidos a acreditar que a informação falsa foi publicada pela Fórum, o que não ocorreu.

2 – O resultado da apuração realizada pelo Projeto Comprova REVELOU EXATAMENTE O QUE A REPORTAGEM DA FÓRUM HAVIA PUBLICADO: esses militares constam no Portal da Transparência como "marechais", ainda que tal posto tenha sido extinto há muitos anos, e assim figuram para receber os vencimentos como tal, como mostram os trechos já mencionados acima e constantes na matéria original da Fórum.

3 – A reportagem da Fórum menciona que a última alteração no regime de previdência dos militares (2019) PODE ter relação com o fato, mas deixa claro que essa informação não é precisa e que o Ministério da Defesa se recusa a comentar e informar a data e o embasamento jurídico para que tal "promoção" fosse possível.

4 – O Projeto Comprova sequer menciona a reportagem também exclusiva da Fórum, publicada em 05 de agosto, sobre o coronel torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, que igualmente aparece na lista do Portal da Transparência como marechal, tendo transmitido os vencimentos referentes ao posto inexistente (para o qual precisou subir inexplicavelmente quatro graus) às suas duas filhas. Por uma questão de coerência, sem estabelecer conexão com esta matéria, fica impossível compreender as informações reveladas acerca dos militares brasileiros que ocupam posições inexistentes no regramento militar apenas com a finalidade de receberem mais.

5 – No caso específico do UOL, que é um dos participantes do Projeto Comprova, o site não diz nada sobre o fato de ter publicado a reportagem da Fórum por meio da página da TV Cultura, que é hospedada em seu domínio e que ostenta o símbolo do UOL em sua home. A matéria publicada era totalmente baseada nas informações exclusivas da Fórum, mas nenhum crédito foi dado ao jornalista Henrique Rodrigues, autor da reportagem, ou ao veículo que a divulgou com ineditismo.

Henrique Rodrigues – Repórter

Edgard Piccino – Ouvidor

Renato Rovai – Diretor de Redação