3 maneiras dos EUA ajudarem o massacre em Gaza

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Sucessivos governos dos EUA tiveram um papel central na perpetuação do conflito na região e na proteção à Israel e de suas violações de leis internacionais contra a população palestina Por Nicolas J. S.  Davies, em Alternet | Tradução: Vinicius Gomes O mundo inteiro está debatendo a morte de milhares de civis em Gaza e o intratável conflito Israel-Palestina está polarizado, principalmente nos EUA, entre sentimentos de solidariedade às vítimas inocentes e a mútua demonização do governo do Partido Likud, em Israel, e do Hamas, em Gaza. No entanto seria mais construtivo entender o papel do governo dos EUA na perpetuação desse conflito sem fim, pois apesar de se apresentar durante décadas como um “negociador honesto” para a paz no Oriente Médio, existe no mínimo três maneiras que os EUA tomam o lado – inequivocamente – de Israel e apoiam, de fato, a ocupação israelense em territórios palestinos, gerador de toda essa terrível violência. 1. Ajuda militar Os EUA forneceram a Israel, no total, cerca de 73 bilhões de dólares em ajuda militar – e atualmente, fornecem 3,1 bilhões de dólares por ano. Segundo a Lei de Assistência Internacional dos EUA (FAA, sigla em inglês) e a Lei de Controle de Exportação de Armas (AECA, sigla em inglês), os EUA são obrigados a suspender ou encerrar qualquer ajuda militar quando armas norte-americanas estão sendo usadas contra civis ou, em outros casos, quando viola a lei humanitária internacional. Todavia, essas leis não foram invocadas ou utilizadas no caso de Israel desde 1982. Após suprir novamente os israelenses com munição durante a atual crise em Gaza, a administração Obama finalmente passou a rever os pedidos de armas de Israel, analisando caso por caso, inclusive segurando um novo envio de mísseis Hellfire para o país aliado. O cumprimento da FAA e da AECA requer a suspensão imediata de auxílio militar até que a violação dessas leis seja investigada por completo. 2. Cobertura diplomática Desde 1966, os EUA usaram 83 vezes seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, mais do que os outros quatro países membros combinados (Rússia, Reino Unido, França, China): 42 desses vetos serviram para “matar” resoluções envolvendo Israel e Palestina – efetivamente protegendo Israel de prestar contas e se submeter às leis internacionais. Israel utilizou dessa imunidade para violar as Convenções de Genebra e outras leis de direitos humanos, para continuar expandindo seus assentamentos ilegais em territórios palestinos ocupados, e também ignorar resoluções do Conselho de Segurança que exigem sua saída imediata deles. 3. Apoio incondicional Israel é hoje um país rico e desenvolvido, com uma avançada indústria de armas, para que assim pudesse se adaptar para uma eventual quebra de assistência militar norte-americana, mas os apoio diplomático e do Congresso dos EUA é vital para que o governo de Israel possa ignorar a condenação – quase universal – dos outros países sobre seus assentamentos ilegais, abusos de direitos humanos e a ocupação dos territórios. Em 2013, a Assembléia Geral da ONU aprovou 21 resoluções sobre Israel-Palestina – a maioria com uma representação de 165 contra 6, tendo EUA e Israel na minoria. Todavia, o apoio dos EUA confere um falso senso de legitimidade para as políticas de Israel. Esse apoio incondicional encoraja os sucessivos governos israelenses a continuar com uma expansão territorial ilegal que o mundo jamais irá reconhecer, resultando apenas em um conflito infinito com palestinos – assim como o crescente isolamento de Israel para com o resto do mundo. Esses três elementos da política norte-americana formam um tripé que permite que esse conflito – com seus massacres e destruição em massa – continuem. Há décadas e décadas existem resoluções da ONU exigindo que Israel acabe com a ocupação de territórios palestinos e seus assentamentos ilegais e que Israel tratasse os palestinos, tanto em Israel quanto nos territórios ocupados, de acordo com os direitos garantidos pelas leis humanitárias internacionais a pessoas do mundo todo. Oficialmente, os EUA ficam ao lado do resto do mundo nessas questões: de que a ocupação deve acabar, que as fronteiras israelenses são aquelas que a ONU reconheceu em 1949 e que as proteções aos civis vivendo sob ocupação estão garantidas pelo Artigo 4° da Convenção de Genebra. Contam ainda com o presidente Barack Obama e o secretário de estado John Kerry para adotar um gesto público de “ser duro” com o governo de Benjamin Netanyahu. Mas os comprometimentos dos EUA com esses três pilares acima de suporte incondicional à ocupação israelense, envia uma mensagem para Tel Aviv de que Israel pode tranquilamente ignorar a postura “dura” de Obama e Kerry. Isso os deixou parecendo impotentes e mais do que ingênuos – isso permitiu que Netanyahu lançasse seu ataque mais mortífero e destruidor até hoje em Gaza. Os israelenses parecem ter atingido seu objetivo de apertar ainda mais o bloqueio à Faixa de Gaza ao destruir os túneis que funcionavam como a única conexão dos palestinos ali com o resto do mundo. Entretanto, parece também ter apenas aumentado a determinação dos palestinos em resistir ao futuro ainda mais restrito que os israelenses buscam impor a eles. Irá os norte-americanos continuarem fingindo que o seu governo foi um “negociador honesto” em seus esforços para acabar com esse conflito horrível? Ou eles irão finalmente exigir mudanças estruturais nesses três aspectos da política norte-americana que perpetua a guerra e a ocupação, negando a paz aos civis inocentes em ambos os lados?