A democracia não pode ser prisioneira da mídia

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Editorial de setembro

Por   A substituição de um império por outro nunca resolveu o problema da dominação. Isso vale tanto para o contexto das relações internacionais entre Estados, como para a ocupação de espaços de poder do ponto de vista interno. Sendo assim, caso a Globo fosse substituída simplesmente por um outro grupo, nada teria mudado. Isso vale inclusive para o caso em que esse “grupo” viesse a ser estatal. Não é bom para a democracia que grupos governamentais ou privados tratem um direito humano como um artefato de guerra a favor dos seus interesses, sejam eles quais forem. Esta edição da Fórum trata da democratização da mídia por acreditar que o tema precisa ser priorizado pela sociedade civil organizada brasileira. E, ao mesmo tempo, porque temos percebido que falta coragem ao governo federal atual para encaminhar esse debate para uma Conferência das Comunicações, o único caminho democrático para tratar a questão. Mas por que exatamente nesta edição? E por que a Globo como centro do debate? No dia 5 de outubro vencem as cinco concessões da TV Globo. Evidentemente, a não-renovação abriria uma “guerra” no Brasil e na comunidade internacional de proporções muito maiores do que a desencadeada na Venezuela por conta da não-renovação da concessão da RCTV. Mas, se sabemos disso, por que aproveitamos a data para debater o tema? Pelo simbolismo. A Globo é responsável por muito do que o Brasil tem de ruim na sua história política recente. E também pelos maiores absurdos do ponto de vista do uso da sua concessão para fins privados. Só para refrescar a memória, foi na emissora da família Marinho que, no dia 25 de janeiro de 1984, as imagens do primeiro comício das Diretas Já se transformaram na festa de aniversário da cidade de São Paulo. Foi também a Globo que criou o candidato Fernando Collor de Mello, num Globo Repórter em que ele se tornou o “caçador de marajás”. E foi também nessa TV que se editou o debate do segundo turno entre Collor e Lula, num dos capítulos mais deprimentes da história da informação. A data da renovação das concessões da Globo precisa ser um marco para aqueles que defendem uma mídia mais democrática. Que defendem um país mais democrático. E por isso precisa ser um dia de manifestações e protestos. Um dia para mostrar ao governo que o movimento social não aceita acordos de bastidores com os barões da mídia; que exige uma Conferência das Comunicações: ampla, democrática e a partir dos municípios; e que nessa grande Conferência quer discutir, entre outras questões, o modelo de concessões. E uma das coisas que esse novo modelo não pode permitir é que a democracia e os interesses da maioria sejam prisioneiros de grupos midiáticos