A influência das migrações na Amazônia

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A Amazônia conta com uma população que passa dos 20 milhões de habitantes, que foi formada por um processo de povoamento intenso, com migrações desde a época da conquista dos espanhóis e portugueses.

Para falar sobre esse fluxo migratório, o site Amazonia.org.br conversou com o pesquisador colombiano Luis Aragon, que estuda a ocupação da região pan-amazônica no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Segundo Aragón, as migrações se refletem na cultura e economia da Amazônia, mas atualmente ela é interna, um êxodo rural. “Está ocorrendo um processo forte de urbanização na região, com cidades com mais de um milhão de habitantes como Manaus e Belém, e outras menores”.

Confira a entrevista.

Amazonia.org.br - Nós podemos dizer que a região Amazônia é caracterizada por grande fluxo de migração?
Luis Aragón -
É possível sim fazer essa análise, mas primeiro temos que entender de qual Amazônia se esta tratando. Eu vou falar da Amazônia inteira, não apenas a brasileira, porque a Amazônia integra o território de nove países, inclusive da França, na Guiana Francesa.

A gente pode ver que em todas essas regiões houve migração intensa. O processo de povoamento foi muito grande desde a época da conquista dos espanhóis e portugueses.

A migração internacional foi forte principalmente de europeus, seguindo a tradição dos brasileiros do sul. Mas depois da segunda guerra mundial esse fluxo de imigrantes europeus diminuiu muito. Aumentou-se então a migração de pessoas das Américas, principalmente da America do Sul, dos outros países amazônicos para a Amazônia brasileira, uma migração intrarregional.

Amazonia.org.br - Como essa população influenciou a região?
Aragón -
Todo esse processo resultou em uma diversidade enorme da população dentro da Amazônia. Houve também uma diminuição do contingente indígena: hoje na Amazônia existem uns 23 milhões de pessoas e, desse total, não se chega a 400 mil índios. Uma população que diminuiu pelas doenças, pelas invasões e também pela miscigenação ao longo da história.

Mas tem outros grupos que contribuem muito para a formação da população da Amazônia, como italianos, japoneses, sírio-libaneses, que até hoje tem deixado marcas muito importantes em diversas áreas, agricultura, cultura, comércio. A indústria em Manaus e Belém foi iniciada pelos estrangeiros que vieram para a região. Hoje isso não se nota, porque está totalmente diluída, a cultura incorporou esses grupos.

Mas mesmo assim ainda existe influências grandes, rastros visíveis desses grupos. Tudo isso gerou uma diversidade muito grande, cultural e étnica.

Amazonia.org.br - O que atraiu a população para a região?
Aragón -
As migrações acompanham os ciclos econômicos. Desde as conquistas, a exploração do sertão, e no início do século a borracha, que trouxe tanto migração interna quanto internacional.

Os estrangeiros assumem grande importância na economia na época da borracha, porque quando o boom acaba, há uma estagnação grande na economia, e foram essas pessoas que levaram a economia para frente. Os estrangeiros não estavam vinculados diretamente à borracha, mas a pequenos empreendimentos. As exportações chegaram a zero porque se preferia a borracha produzida na Ásia, mas a vida econômica continuou porque ainda existia gente morando por aqui. Nesse período os italianos, judeus, espanhóis levaram a economia para frente e supriram as necessidades.

A queda desse fluxo ocorreu depois da Segunda Guerra Mundial. Os italianos, os japoneses foram bastante perseguidos na época da guerra. Foram destruídas as suas empresas, por associar os italianos ao fascismo. Neste contexto, ficou praticamente impossível se manter na região.

Mais recentemente, a população foi atraída pelos grandes empresas na década de 1970, com incentivos fiscais e também com a descoberta do ouro.

Amazonia.org.br - Existe migração hoje?
Aragón -
Hoje a migração internacional e interregional não são intensas. Mas existe saída de pessoas e intensa mobilidade interna, dentro da própria região da Amazônia brasileira. Está ocorrendo um processo forte de urbanização na região, com cidades com mais de um milhão de habitantes como Manaus e Belém, além de outras menores.

Então o que se tem hoje é a migração interna, o grande êxodo rural que vem para as cidades. As cidades se enchem de favelas porque não têm os serviços que deveriam ter para atender esse contingente que chega do interior.

Amazonia.org.br - O caos fundiário - que muitos consideram um dos maiores problemas na região - pode ser atribuído ao processo de colonização que ocorreu na Amazônia?
Aragón -
Sim, claro. Desde a época da colonização do governo militar, já havia um processo espontâneo, uma migração espontânea. Ao se encontrar um terreno, não era tão necessário assim ter titulo da terra, ninguém prestava atenção a isso. Mas depois o governo passa a exigir o título, o que aconteceu foi um conflito entre posseiros, pessoas vindas do nordeste, com aqueles fazendeiros que precisam do titulo da terra.

O processo é muito contraditório e isso hoje se reflete no conflito pela posse da terra. A posse real e a posse jurídica geram esse problema. Isso com certeza é resultado, em parte, do processo de ocupação.

(Envolverde/Amazonia.org)