A outra cidade de Oded Grajew

O idealizador do FSM diz estar "cansado" de negar sua participação no movimento "Cansei", cobra propostas, e divulga o projeto Nossa São Paulo outra cidade, que quer mudar a prática política a partir da maior cidade do país

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O idealizador do FSM diz estar "cansado" de negar sua participação no movimento "Cansei", cobra propostas, e divulga o projeto Nossa São Paulo outra cidade, que quer mudar a prática política a partir da maior cidade do país Por Anselmo Massad Nos primeiros dias depois do lançamento da campanha cívica da seccional de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SP) e de entidades empresariais logo rebatizada de “Cansei”, divulgou-se uma participação inesperada. Oded Grajew, um dos idealizadores do Fórum Social Mundial, ex-diretor-presidente do Instituto Ethos de responsabilidade social corporativa e ex-assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estaria entre os indignados. “Estou cansado de explicar que não faço parte nem apoio o movimento cansei”, brinca o ativista. Envolvido no projeto "Nossa São Paulo é Outra Cidade", Grajew explica, nesta entrevista à Fórum, os objetivos que ele mesmo considera ambiciosos: transformar a prática política do país a partir da maior cidade brasileira. O modelo é o da transformação ocorrida na Colômbia a partir de Bogotá. “Sabe aquela história de construir outro mundo possível? Foi o que aconteceu”, garante. A base para essa avaliação são indicadores em todas as áreas da gestão pública criados a partir da iniciativa de promover democracia participativa. Para as eleições de 2008, o movimento pretende apresentar uma base de indicadores para cada candidato apontar que tipo de medidas serão tomadas para melhorá-los em cada área.  Grajew segue como presidente do Conselho deliberativo do Ethos. Confira a íntegra. Fórum – Antes da entrevista propriamente dita, a primeira pergunta é sobre seu envolvimento com o movimento “Cansei”. O senhor apóia ou não a iniciativa? Oded Grajew – Estou cansado de explicar que não faço parte nem apoio o movimento “Cansei” (risos). A confusão se iniciou com uma manifestação de solidariedade que fiz às famílias das pessoas que morreram no acidente [da TAM no dia 17 de julho, no aeroporto de Congonhas]. Qualquer um de nós apoiaria isso. Pessoas morreram. O mesmo tipo de solidariedade também existe com as famílias que sofrem com mortalidade infantil e outras tragédias. Várias pessoas manifestaram sua solidariedade, eu entre elas. Outra coisa é o movimento “Cansei”. Não faço parte, nem apoio. Fórum – Quais são as razões por que o senhor adota essa posição? Grajew – Há vários motivos. Primeiro, o movimento em que atuo, Nossa São Paulo, tem um objetivo bem concreto, por meio da ação em São Paulo – a maior cidade do país, que a torna exemplar – é mudar o modelo político. Hoje, ele é descomprometido, sem metas, sem objetivos, o que não permite avaliações de programas. Dificilmente alguém sabe responder se perguntamos qual é o projeto para cidade, para o estado ou para o país, o que se espera na saúde, educação, transporte público, como anda o debate orçamentário, quais são os recursos alocados. A população não acompanha. Estamos engajados para criar um processo exemplar. Qualquer mobilização da sociedade é bem-vinda num país campeão de desigualdade social, com enorme grau de corrupção. Agora, é fundamental que se mobilize em cima de propostas concretas. Quando se fala de “Cansei”, quais são as propostas concretas e quais as estratégias para atingi-las? Quando se fala em mais respeito, o que significa isso em termos de governo e de atitudes da sociedade civil? Saber isso ajuda a esclarecer a natureza de qualquer movimento para saber quem adere e quem não adere. Um diz que é partidário, o outro que não é. Uns, que é golpista e elitista, e outros que não é. Para saber, precisa de proposta. Isso vale tanto para o “Cansei” quanto para o “Cansamos” que a CUT vai lançar. Não apoio nenhum deles. Mas qualquer ato de solidariedade legítimo tem o apoio de todos nós. Fórum – O projeto Nossa São Paulo, Outra Cidade traz uma alusão ao lema do Fórum Social Mundial. Quais são as propostas do movimento? Grajew – Há relação com o Fórum, sim. “Nossa São Paulo” é no sentido do pertencimento. O que a cidade vai ser depende do engajamento de todos. E que seja resultado da atuação de todos para todos, e não para alguns. “Outra Cidade” é no sentido da transformação, porque reúne gente que não está satisfeita com o estágio atual. A ambição inicial, começando por São Paulo, é mudar processo político brasileiro, avançar na democracia participativa e diminuir a desigualdade social e regional a partir de quatro eixos. O primeiro é a formação de indicadores para cada área. Na educação, por exemplo, a intenção é levantar a evasão escolar, o número de alunos por sala de aula, a freqüência, a qualidade do ensino. Gostaríamos que as políticas públicas e as promessas de campanha fossem feitas em cima de indicadores, com metas e objetivos claros em cada área e para cada uma das 31 subprefeituras, no caso de São Paulo. Como reduzir a desigualdade social está entre os objetivos, os avanços tem que ocorrer em cada região do município. Outro eixo é o acompanhamento cidadão, seguir o andamento das políticas públicas, a Câmara de Vereadores e o orçamento público. O terceiro ponto é a educação cidadã, para construir uma cidade em que todos se sintam parte, que atue e se comporte e tenha ação política. Não adianta falar em cidadania se eu avanço na faixa de pedestres, se jogo lixo no chão, se não participo, se não cobro de fato o Poder Público. O quarto é a participação. Em última análise, cada paulistano fazendo parte dessa rede. Fórum – Como está a mobilização atualmente? Grajew – Há uma rede razoavelmente grande, de 290 organizações, mas com perspectiva de ampliação para potencializar trabalho de cada um. Na quarta-feira [7 de agosto], vai haver o lançamento do Dia Mundial Sem Carro. É uma mobilização em cima dos quatro eixos, um pretexto para falar de poluição, de transporte coletivo, de segurança no transito, de mobilidade na cidade. Há vários indicadores, propostas, e queremos até deixar marcas na cidade depois desse dia. Em torno da temática, vamos fazer no Espaço Rosa Rosarum, um movimento bastante ambicioso. É provocar um impacto no país por meio da maior cidade. Foi o que aconteceu na Colômbia, a partir da cidade de Bogotá. Fórum – Como foi esse processo colombiano? Grajew – O que aconteceu em Bogotá foi uma revolução. Sabe aquela história de construir outro mundo possível? Foi o que aconteceu. Todos os indicadores melhoraram baseados nisso. O prefeito tem que apresentar um plano detalhadíssimo para cada área. Depois de eleito, ele precisa colocar em marcha, e até tem possibilidade de impeachment caso ele não o execute. A sociedade acompanha, as políticas boas têm continuidade, os administradores públicos são de primeira, sem parente, sem gente do partido etc. Tem que colocar profissionais que façam acontecer. Na questão da mobilidade, há ciclovias, transporte coletivo. E o orçamento publico é acompanhado por todos. O processo começou há 15 anos e contagiou outras cidades colombianas. Fórum – Há um ano e três meses das eleições municipais de 2008, é inevitável estabelecer relação com essa iniciativa. Como o movimento lida com a questão e como está a relação com a Prefeitura? Grajew – Desde o começo, temos falado com a prefeitura e com todos os partidos políticos. Explicamos a natureza da iniciativa, que o movimento é apartidário. Queremos que se trabalhe em cima de programas, metas e objetivos. O que fazemos com a atual gestão é mudar uma série de informações sobre a cidade. Para ter indicadores, é preciso construir e fazer desdobramentos orçamentários por subprefeitura. Quanto vai para Cidade Ademar e quanto vai para Pinheiros, dados que não são separados atualmente. A prefeitura está colaborando com dados e mobilizações. Com partidos políticos, vamos entrar com um projeto de lei que obrigue o prefeito a apresentar na Câmara os programas com objetivos e metas. Para a campanha de 2008, queremos programas que não sejam como os feitos por marqueteiros. Vamos oferecer uma base de indicadores para perguntar aos candidatos o que será feito deles, em que estágio se pretende que eles cheguem com a gestão e como será feito isso. Nas últimas eleições, quem acompanhou os debates na televisão, tem dificuldade de apontar um programa ou uma meta apresentada. Como nenhum de nós é candidato a nada, ficamos muito à vontade para fazer esse tipo de trabalho.  Para ler mais: Bogota Como Vamos (em espanhol) Nossa São Paulo é Outra Cidade