A palavra e o sentido

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Ela perde a guerra todos os dias. Sem adversários. É derrotada por um clone desfigurado, transgênico, inventado pelo mesmo laboratório que reclama a sua ausência.

Os mais espúrios massacres são em seu nome. As intervenções são para garantir a tranqüilidade do planeta.

Invocam-na gentes de branco. Aqueles que clamam por penas mais duras contra os abomináveis seres dos escombros das cidades.

Fazem campanhas por ela os meios. Os mesmos que se locupletam das barbáries cotidianas.

A lógica da sociedade-sangue que a derrota faz questão de dizer que a constrói. É o espírito da paz como desejo. Não como ação.

Mas qual ação? Talvez começando pela incessante defesa do respeito às diferenças. Talvez pelo reconhecimento de que não há adversários absolutos e de que não se luta contra povos, países, gêneros, credos ou opções ideológicas. Talvez se convencendo de que não existe o Santo Guerreiro nem o Dragão da Maldade. Talvez... A construção da paz passa pela destruição das certezas.

É essa sabedoria que buscamos. A que não ignora as diferenças, a que luta por seus princípios, a que invoca certa justiça, a que explora os sentidos e que tenta entender a paz.

Não se trata de ignorar a loucura sanguinária de uns tantos esquizofrênicos que não abrem mão de controlar o mundo, de extorqui-lo, expropriá-lo.

Não se trata de fazer valer um tipo de pacifístico discurso apropriado à calmaria, ao não-agir. Não se trata de polemizar para tentar dissuadir.

Talvez, e de novo talvez, não exista a paz. Nem justiça. Mas há de existir sempre o pensar e o agir. Dessas propriedades do humano não se pode abrir mão. E ao desafiar a utopia, pode-se utilizá-la como guia. Paz como política, princípio universal. Sempre. Independente do lado e do objetivo.