A sociedade se encantou

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María Simon é ministra da Educação e Cultura da República Oriental do Uruguai, tendo sido anteriormente reitora da Faculdade de Engenharia da Universidade da República, instituição pública responsável por cerca de 85% do ensino universitário do país. Veja abaixo os principais trechos da entrevista exclusiva que concedeu à Fórum.

Fórum – Ministra, sei que o tempo é curto e não há uma avaliação oficial, mas do que se pretendia com o programa Ceibal em seu início até agora o que a surpreendeu?
María Simon – Não há ainda uma avaliação completa dos resultados escolares, se as crianças aprenderam mais, repetiram menos etc. Mas há alguns elementos importantes, como a radical redução nas faltas. Com o programa, as crianças querem ir à escola. Além de uma muito maior participação da família. É o que dizemos, as escolas não são apenas para ter aulas, mas sim um local social e cívico para que haja participação. E há uma maior participação dos pais com o plano. Outro fenômeno é que se criou uma organização da sociedade civil em apoio ao programa, a Rap-Ceibal, com trabalho voluntário. É uma rede muito grande, com gente em todo o país, com o objetivo de ajudar as crianças e os professores. A sociedade se encantou. Há um grande entusiasmo, que se traduz em coisas que podem parecer menores, como a música de um compositor uruguaio importante Jorge Drexler, que se chama À Sombra de Ceibal, referindo-se ao fato de que ceibal é também um conjunto de árvores, da palavra ceibos. Há uma corrente na
sociedade muito positiva e creio que realmente se entranhou entre as pessoas e não é mais reversível, mesmo que venha outro governo com outras ideias, é praticamente impossível que se volte atrás porque a população já se apropriou do programa.

Fórum – Ao começar a usar o computador muito cedo, há uma possibilidade maior de as crianças se encaminharem para a área de informática, em que o Uruguai é grande exportador
de softwares?
María Simon – Sim, claro, se bem que esse computador não se destina a ensinar computação, mas sim os conteúdos da escola fundamental, como matemática, história, biologia, saúde, direitos humanos... E a perspectiva do professor muda, porque sua principal função não é transmitir informações, mas sim promover a discussão, o pensamento. Minha mãe era parteira e se pode aplicar o mesmo pensamento que ela dizia sobre as crianças, “posso ajudá-las a nascer, mas criá-las já não posso”. Mais que se ensinar conteúdos, pode-se ajudar a pensar.

Fórum – Há um problema grave no Uruguai que é o fato de muitos jovens saírem do país. O programa pode mudar algo nessa área?
María Simon – Espero que sim, não só pelo plano Ceibal, mas também pela nova lei da educação, que dá uma especial importância ao ensino técnico e cria também carreiras curtas de caráter tecnológico. Não apenas ligadas à engenharia, mas também ao ensino técnico como turismo, gestão e idiomas para dar alternativas de emprego rapidamente para as pessoas. Porque há dois problemas, os jovens que se vão e empreendimentos que se instalam aqui e não encontram pessoas formadas para determinadas funções na qualidade e quantidade necessárias.

Fórum – Os primeiros alunos que tiveram acesso aos computadores se formarão no ensino fundamental entre 2010, 2011, os resultados serão avaliados em algum tipo de pesquisa?
María Simon – Já existem pesquisas e elas serão feitas todos os anos. De um lado se medirá o uso dos computadores pelas crianças, para que elas mais os usaram e que vivências tiveram, porque não é um plano apenas de educação, mas também de integração social. O abandono da escola, o absenteísmo, o rendimento escolar, quantos alunos são aprovados, tudo isso tem de medir. E o mais difícil, que é medir quanto se aprendeu. Talvez proponhamos uma espécie de prova, questionário, algo assim, já que não existe hoje uma avaliação nacional. F