ABGLT denuncia homofobia em comercial de cerveja ao Conar

Toni Reis, presidente da ABGLT, explica por que, para a Associação, a propaganda da Nova Schin apresenta discriminação

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Toni Reis, presidente da ABGLT, explica por que, para a Associação, a propaganda da Nova Schin apresenta discriminação Por Maria Eduarda Carvalho A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) encaminhou nesta segunda-feira, 28, um ofício para o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) pedindo a retirada do comercial “Festa de São João” da empresa Nova Schin. De acordo com a Associação, a propaganda apresenta conteúdo discriminatório e homofóbico.

No anúncio, um homem travestido de mulher é alvo de piadas e deboche. Segundo a Associação, a consternação se dá pelo fato de a população de travestis estar entre uma das mais discriminadas no Brasil.  Para a ALGBT, por mais que o anúncio não apresente nenhum tipo de violência física contra homossexuais, a ação se enquadra em crime de homofobia porque “transcende a hostilidade e a violência contra LGBT e associa-se a pensamentos e estruturas hierarquizantes relativas a padrões relacionais e identitários de gênero, a um só tempo sexistas e heteronormativos”.

Em entrevista à Revista Fórum o presidente da ABGLT, Toni Reis, falou sobre o teor homofóbico do vídeo, violência contra homossexuais e o papel que a mídia repercute da comunidade LGBT.

Fórum – Para a ABGLT, o que caracteriza o vídeo como homofóbico? Toni Reis – A frase “de dia é João e de noite é Maria” e os termos colocados, pezão, volumão, gogózão, são uma forma depreciativa de como é tratada a pessoa travesti. E (no vídeo) todo mundo dá risada da situação, faz o escárnio, porque o rapaz teve um relacionamento com a travesti. Nesse sentido a gente sempre procura verificar: se tirasse a pessoa travesti e colocasse a pessoa negra? Não é natural tirar sarro de uma pessoa por uma única característica.

Fórum – Vocês encaminharam a denuncia para o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar). O conselho já se manifestou ou deu algum parecer sobre a retirada do comercial do ar? Reis – Não, não deram. A Schin publicou uma nota, mas que não nos convence porque realmente o comercial vai contra a dignidade. E nós esperamos que eles tenham bom senso, a gente vai verificar todas as medidas cabíveis que possam assegurar que o comercial saía do ar.

Fórum – Segundo uma pesquisa feita na Parada LGBT de São Paulo em 2005, 77,% das pessoas travestis e transexuais afirmaram já ter sofrido agressão verbal/ameaça de agressão em virtude de sua sexualidade. Como campanhas publicitárias acabam contribuindo para essas estatísticas? Reis – Você vai naturalizando uma coisa que não é natural, como se fosse normal tirar sarro, o que acontece muito inclusive nas escolas. O problema é que isso vai formando uma cultura homofóbica, uma cultura de discriminação que não é natural.

Fórum – Qual é hoje a apresentação que a mídia e a publicidade fazem da comunidade LGBT? Reis – No geral, a mídia tem tratado o tema com muito respeito. Onde nós temos alguns problemas são com alguns programas humorísticos, religiosos e policiais que ainda nos tratam com caricatura estereótipo e com discriminação. Mas hoje jornais impressos e televisões têm se pautado muito pela política dos direitos humanos. Na publicidade acontece isso que a gente viu, colocam em forma de humor, um humor que não é de bom tom. Nem todos ofendem, a gente também não pode ser tão mal humorado e dizer que tudo é discriminação. Mas da forma que são apresentados alguns comerciais, a gente percebe que tem um estereótipo que não é só com homossexuais, tem a questão das mulheres, dos negros , das pessoas obesas. E a gente tem que denunciar.

Assista ao vídeo da propaganda: