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O aborto é um imenso problema no Brasil: na clandestinidade, milhares de mulheres recorrem a métodos perigosos para interromper a gestação. Como consequência disso, assistimos um verdadeiro banho de sangue - e tal carnificina do corpo feminino só existe devido à ilegalidade do aborto. A única solução eficiente seria legalizar o procedimento.
Com o aborto legalizado, o processo se tornaria gratuito e seguro, disponível no SUS e acompanhado por uma equipe multidisciplinar que seria responsável pelo acolhimento das mulheres. A legalização do aborto resultaria em políticas públicas muito mais eficientes, com a disponibilidade de psicólogos e assistentes sociais que auxiliariam as gestantes da melhor maneira, a fim de que decidam sem pressão ou desespero. Além disso, estratégias de educação sexual também acompanhariam a legalização do aborto, para possibilitar o máximo de prevenção.
Por mais que uma educação sexual de qualidade e o fácil acesso a métodos contraceptivos sejam de fundamental importância para reduzir os casos de gravidez indesejada, não são a solução definitiva para o problema do aborto no Brasil, sobretudo em um quadro como o atual; em muitas cidades brasileiras, religiosos fundamentalistas conseguem controlar e impedir a distribuição de preservativos e pílulas anticoncepcionais. Tal rede de intimidação é tão poderosa que consegue ameaçar equipes de saúde e comunidades inteiras.
Também é fato que muitas mulheres desconhecem os efeitos colaterais dos contraceptivos e, infelizmente, não sabem que na presença de diarreia ou vômito as pílulas podem perder o efeito. Além disso, muitos parceiros se recusam a usar camisinha pelos motivos mais estapafúrdios, incluindo a ideia de que as mulheres estão os traindo. Por medo, vergonha e ignorância, muitas mulheres engravidam sem desejarem a gravidez ou mesmo sem terem condições de criar uma criança.
No topo disso tudo, o direito ao próprio corpo deve ser a máxima. Não ter condições financeiras ou psicólogas para ter filhos não deve ser a única razão aceitável para a realização de um aborto. Se uma mulher não deseja estar grávida, ela deve ter o direito de interromper a gestação. Com a legalização, esse procedimento tem um limite de semanas para que aconteça, sem que um cenário de horror tome lugar.
Nos países onde o aborto é legal, até mesmo os números de procedimentos diminuíram. Acabando a atmosfera de pânico e medo, as mulheres conseguem enxergar com mais clareza quais são suas reais alternativas. Acolhidas pelas equipes capacitadas, conseguem decidir segundo o que realmente desejam e acreditam.
Não podemos fechar os olhos para essa questão. Nenhuma religião pode ser a lei que rege a vida de todos; cada indivíduo tem direito a suas próprias convicções, mas nenhuma delas deve ser imposta. Para um país como o nosso, a laicidade é mandatória e todas as leis e políticas sociais devem ser pautadas em dados científicos e estudos sociais criteriosos.
Aquelas que são contrárias à prática do aborto devem manter seu direito de não recorrer a um, pois são livres para não abortar. Mas quem precisa de um aborto e opta por ele deve receber acolhimento em segurança. A vida das mulheres importa e deve ser protegida. E se você se preocupa com a situação do aborto no Brasil, reveja seus conceitos, pesquise sobre o assunto e defenda também a sua legalização.
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Foto de capa: Reprodução / Facebook