Aécio nega ter contestado vitória de Dilma em 2014 e diz que foi o último, junto com FHC, a aderir ao impeachment

Aécio defende que PSDB abra mão da cabeça de chapa em 2022 e ironiza Doria, que teria um conselho para dizer que "o terno estava bonito, a gravata belíssima e o cabelo bem penteado". "Aí ele dorme na ilusão de que é o sujeito mais querido do Brasil"

Doria e Aécio Neves (Arquivo)
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Alçado à presidência da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional na Câmara, substituindo Eduardo Bolsonaro em um grande acordo com a base governista, Aécio Neves (PSDB-MG) deixou o ostracismo e foi levado de volta às páginas políticas - e não policiais - dos jornais em longa entrevista a Igor Gielow, na edição deste sábado (13) da Folha de S.Paulo.

Em tom diplomático, Aécio negou ter questionado o resultado das eleições de 2014, em que foi derrotado por Dilma Rousseff (PT), e afirmou que foi o último, junto com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a aderir ao impeachment da presidenta em 2016.

"Eu não questionei o pleito, tanto que liguei para Dilma e a cumprimentei. Questionamos se havia manipulação nas urnas e não houve resposta conclusiva. Em relação ao impeachment, faço uma confissão. As duas últimas pessoas a aderir foram eu e o Fernando Henrique Cardoso", afirmou, antes de confessar a participação no golpe, iniciado justamente quando não aceitou a derrota eleitoral. "O que ocorreu é que a paralisação do Brasil foi tamanha que sobrou para nós a responsabilidade de liderar. Foi uma onda gigante, o PSDB não faria nada sozinho".

Eleições 2022
Rejeitando a pecha de bolsonarista - dizendo que não vê só "as agruras" no governo Jair Bolsonaro onde "há virtudes nas questões econômicas -, Aécio afirmou que não será mais candidato à presidência.

O deputado ainda defendeu que o PSDB abra mão da cabeça de chapa em 2022, desferindo várias estocadas no governador de São Paulo, João Doria, que o teria procurado pela primeira vez para pedir a presidência da Embratur no governo José Sarney, onde o paulista foi acusado de desviar 6 milhões de cruzados entre 1987 e 1988.

Em declaração recheada de ironias, Aécio diz que Doria "constituiu em torno de si o que chamamos de CCC, o Conselho do Cargo Comissionado".

"São pessoas com funções de confiança do governo e que têm função partidária também. Eles se reúnem à noite com o governador para dizer que está tudo bem, que o terno estava muito bonito, a gravata era belíssima e o cabelo estava bem penteado. Aí ele dorme na ilusão de que é o sujeito mais querido do Brasil. Acho que foram esses conselheiros que levaram ele ao equívoco de que poderia tratar o PSDB como uma legenda qualquer. Ele cometeu um erro de avaliação e acho que aprendeu. O governador tem virtudes, mas sua obsessão pelo marketing impede que muitas dessas virtudes possam ser vistas", afirmou.