América Latina: Do Consenso de Washington ao de Santiago

Líderes empresariais e políticos da América Latina que participaram do Fórum Econômico Mundial sobre a região propuseram o chamado Consenso de Santiago. São três prioridades e sete propostaspara aumentar o crescimento econômico e melhorar a distribuição da riqueza.

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Por Daniela Estrada, da IPS

Líderes empresariais e políticos da América Latina que participaram do Fórum Econômico Mundial sobre a região propuseram o chamado Consenso de Santiago, com três prioridades: educação de qualidade, cuidado com o meio ambiente e investimento em pesquisa e desenvolvimento. Por ordem de importância, as outras sete propostas são eficiência fiscal, investimento em infra-estrutura, fortalecimento das instituições públicas e luta contra o crime e a corrupção. O propósito de todas elas é aumentar o crescimento econômico e melhorar a distribuição da riqueza.

Os participantes do FEM sobre a América Latina, que terminou ontem na capital chilena, também propõem reformas institucionais, criação de redes de segurança social e flexibilidade do mercado de trabalho. “São prioridades que, em geral, têm a ver com a questão social, com a infra-estrutura, que, acreditamos, devem ser bem recebidas (pelos governos) porque destas variáveis depende o bem-estar das populações”, disse à IPS o mexicano Emilio Lozoya, diretor do FEM para a América Latina.

Lozoya explicou que os trabalhos para se chegar ao Consenso de Santiago começaram há mais de dois anos, quando o FEM consultou centenas de empresários sobre as 10 políticas que consideravam necessárias para garantir o crescimento econômico e a igualdade na região mais desigual do mundo. Desse processo surgiram 26 propostas que foram votadas durante a reunião em Santiago, iniciada quarta-feira com as presenças de 400 dirigentes empresariais, políticos, acadêmicos e sociais da América, Europa e Ásia-Pacífico. Desta forma, 90,4% dos eleitores consideraram que a educação é o principal desafio dos países da região, seguida pela “proteção da vitalidade dos ecossistemas naturais”, com 65,4%; e da “promoção pública e privada dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento”, com 63,5%.

A vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina, Pámela Cox, moderadora do painel dedicado a debater o tema, disse que o questionado Consenso de Washington, surgido no começo da década passada com a postulação de políticas de ajustes do Estado, permitiu aos países da região conseguir estabilidade macroeconômica, mas que agora é necessário dedicar-se a “reformas de segunda geração”. Cox disse estar surpresa porque “um grupo de pessoas do setor privado” votara em segundo lugar a necessidade de se preocupar com a conservação do meio ambiente. “Surpreendeu a todos a votação do meio ambiente e isso deveria nos alegrar”, completou Lozoya.

Além dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Michelle Bachelet, do Chile, participaram do FEM o secretário-executivo da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, José Luis Machinea, e o secretário-geral da Organização de Estados Americanos, José Miguel Insulza. Também estiveram presentes cem presidentes de empresas internacionais, 20 ministros da região e representantes da Organização Mundial do Comércio, do Banco Interamericano de desenvolvimento e do Fundo Monetário Internacional.

Esta foi a segunda reunião na América Latina do fórum de negócios que acontece a cada ano na localidade turística de Davos, na Suíça. O primeiro encontro regional aconteceu no ano passado no Brasil. Um dos desafios mais apontados em Santiago é a incorporação da inovação tecnológica que agregue valor às exportações regionais centradas nos produtos básicos. “Nossa obrigação é dar valor à nossa matéria-prima e devemos começar agora”, aproveitando os altos preços que alcançaram esses produtos, disse o co-diretor do FEM, o empresário chileno Andrónico Luksic Craig, vice-presidente do Banco do Chile.

O presidente da divisão de metais não-ferrosos da empresa chinesa Minmetals, Zhang Shoulian, presente ao encontro, disse que seu país continuará investindo na regioa, com a qual se “complementa naturalmente”, e que na China também há enorme espaço para o investimento latino-americano. O ex-ministro de Desenvolvimento do governo Lula, Luiz Fernando Furlan, chamou a atenção para a não existência de uma política comum da América Latina em relação à China, mas afirmou que “há conversações para que seja feito um acordo com o Mercosul” (formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela). “Isso pode estimular uma relação mais próxima”, acrescentou.

Várias organizações chilenas, como o capítulo nacional da Associação por uma Taxa sobre as Transações Financeiras especulativas e a Ação Cidadã (Attac) e a Rede por uma Economia Solidária, questionaram a concretização das boas intenções expressas no fórum de empresários. “Diante dos grandes acordos de livre mercado que esse tipo de fórum impulsiona, sugerimos um modelo de integração regional não apenas comercial, mas cultural, social, econômico e político que privilegie os povos e que tenha como principal fundamento os laços de cooperação e fraternidade”, afirmou a Rede por uma Economia Solidária em um comunicado divulgado ontem. “Cremos firmemente que outra economia é possível, centrada nas pessoas e que tenha por objetivo principal a satisfação das necessidades sociais”, afirma o documento.

Envolverde/ IPS