Após fazer graves insinuações sobre a China e "guerra química", Bolsonaro diz que não citou o nome do país asiático

Pela manhã, presidente sugeriu que coronavírus pode ter sido criado em laboratório, dentro de uma guerra química, e questionou qual o país que mais cresceu o seu PIB, em referência à China; à noite, mudou o tom: "muita maldade tentar aí um atrito com um país importante"; assista

Foto: Marcos Corrêa/PR
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O presidente Jair Bolsonaro atacou a China de forma indireta, na manhã desta quarta-feira (5), como uma estratégia para depois não ser cobrado com relação à grave insinuação que fez sobre o país asiático. O expediente utilizado pelo titular do Planalto se confirmou à noite, quando negou que tenha feito qualquer insinuação sobre a nação governada por Xi Jinping.

Em evento no Palácio do Planalto, Bolsonaro sugeriu, sem citar o nome do país, que a China criou o coronavírus em laboratório e estaria encampando uma “guerra química”, tese que é rechaçada pela OMS.

“É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês", declarou. O país que mais teve crescimento no PIB, em 2020, foi justamente a China.

Já à noite, no aeroporto do Galeão (RJ), durante a recepção de Robson Nascimento de Oliveira, ex-motorista que estava preso na Rússia sob a acusação de tráfico de drogas, o presidente foi questionado sobre a fala feita pela manhã e ele negou que tenha se referido ao país asiático.

“Eu falei a palavra China hoje de manhã? Eu não falei. Eu sei o que é guerra bacteriológica, guerra química, guerra nuclear. Eu sei porque tenho a formação. Só falei isso, mais nada. Agora ninguém fala, vocês da imprensa não falam onde nascem os vírus. Falem. Ou então têm medo de alguma coisa? Falem. A palavra China não estava no meu discurso de quase 30 minutos de hoje", declarou, sem especificar qual seria o país, então, ao qual se referia.

Principal responsável pelos atritos com a China, principal provedora de insumos para vacinas contra a Covid-19, Bolsonaro ainda acusou a imprensa de criar essa situação. "Agora, muita maldade tentar aí um atrito com um país que é muito importante pra nós. E nós somos importantes pra eles também", disse.

Assista.

https://twitter.com/depjorgesolla/status/1390093435567329284

"Doença mental"

A grave insinuação com relação à China na fala de Bolsonaro feita pela manhã ficou tão clara que o deputado Fausto Pinato (PP-SP), presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, divulgou uma nota para rebater o presidente.

“Estou preocupado sobre um possível desvio de personalidade da maior autoridade do Brasil. A meu ver, não se trata de uma pessoa irresponsável, desequilibrada e sem noção de mundo. Na verdade, pode tratar-se de uma grave doença mental que faz o nosso presidente confundir realidade com ficção. Penso que estamos diante de um caso em que recomenda-se a interdição civil para tratamento médico. O Brasil agradecerá”, diz a nota.

Nas redes sociais, o deputado postou, além da nota: “Não compactuaremos com afirmações desrespeitosas e irresponsáveis contra a China, que tem sido grande parceira do Brasil na luta contra a pandemia da Covid-19”.

Quem também se manifestou sobre o assunto foi o presidente da CPI do Genocídio, senador Osmar Aziz (PSD-AM). “Acho que essa declaração de hoje vai piorar muito. Hoje foi ruim. Falou em guerra química. E nós estamos nas mãos deles. Não era a hora de cutucar ninguém”, disse o parlamentar.