A armadilha do machismo na caminhada conservadora

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Nas manifestações que aconteceram neste domingo (15), houve milhares de mulheres participando ativamente. Entre cartazes e camisetas com mensagens, muitas defendiam um modelo de política conservador e dividiam espaço com grupos que pediam por uma nova ditadura militar. Na massa, até mesmo grupos neonazistas estavam presentes. Para essas mulheres, participar de um manifestação política, depois de décadas de luta pelos direitos femininos, é algo natural e tomado por garantia. No entanto, mesmo que não se deem conta, a lógica de sociedade conservadora que defendem, mais cedo ou mais tarde, pode se voltar contra elas. Afinal, esse modelo se apoia na figura do patriarca, tanto para estabelecer relações particulares quanto para ostentar figuras de liderança. É uma verdade inquestionável que as defensoras dessa mentalidade são livres para escolher o modelo político em que mais acreditam. Mas nenhuma parece compreender o que pode acontecer com as mulheres em uma sociedade conservadora. Muitas manifestantes nem sequer viveram sob políticas mais repressivas, pois já nasceram com o direito de sair de casa, ler, estudar e frequentar escolas mistas, votar, trabalhar e, inclusive, protestar. Por mais que o machismo ainda exista perversamente de maneira estrutural e naturalizada, os frutos da luta de mulheres já existem e as mulheres que defendem o conservadorismo também usufruem deles. Não obstante, caminhar lado a lado com neonazistas e defensores de figuras de poder masculinas não passa de um grave equívoco. Talvez, se as mulheres que estavam presentes nas manifestações do dia 15 pensassem sobre o significado prático do discurso conservador, lembrariam-se de um tempo nem tão distante em que seriam obrigadas a viver sob a sombra de seus pais e maridos; um tempo em que não havia Lei Maria da Penha, muito menos uma lei que considerasse o assassinato de mulheres motivado por machismo, o feminicídio, um crime hediondo; um tempo em que poucas tinham a coragem de protestar contra o estupro e reivindicar o direito de simplesmente andar pelas ruas. Ao marcharem ao lado de homens que xingam as mulheres de putas e vadias, essas manifestantes se esquecem de que em algum momento podem ser as próximas ofendidas. Enquanto os movimentos feministas vêm forçando a ocupação de mulheres nos cargos políticos, os conservadores elegem pouquíssimas dentro de seus âmbitos. Para elas é concedido o direito de falar, mas sempre sob condições restritas; as mulheres só conseguem dizer aquilo que os homens querem ouvir e apenas ideias que não desafiem a dominação masculina sobre a mulher podem ser defendidas. As mulheres que oferecem suas vozes na defesa de ideais políticas conservadoras podem enfrentar decepções em breve, quando a realidade mostrará a que veio. O conservadorismo deixará evidente, pela prática, como enquadra todas as mulheres como cidadãs de segunda categoria. Eis o perigo de desejar a regressão e o retorno aos moldes antigos: com eles, os padrões antigos impostos às mulheres também voltam à tona. Seria um retrocesso tremendo ver novamente as mulheres reduzidas a figuras submissas, vivendo sob a sombra do patriarcado. Talvez esta seja a hora de relembrar o que a ditadura militar e os modelos conservadores oferecem às mulheres. Quem sabe algumas dessas manifestantes consigam perceber que o que defendem é o seu próprio aprisionamento. Foto de capa: Reprodução / Facebook