ARTIGO: A destruição da diversidade agrava o caos no clima

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A ambientalista indiana faz uma retrospectiva da devastação ambiental quinze anos depois da conferência Rio 92.

Há quinze anos, na Cúpula da Terra do Rio de Janeiro, foram assinados dois acordos internacionais: a Convenção sobre Biodiversidade Biológica e a Convenção sobre Mudança Climática. Ambos se desenvolveram de forma totalmente independente, embora estejam intimamente ligados. A biodiversidade e o clima estão conectados na formação dos problemas ambientais e na busca de soluções. A discriminação que sofrem as economias locais e sustentáveis baseadas na biodiversidade está no coração do caos climático. À medida em que as economias locais com base na biodiversidade são substituídas por economias globais, centradas na utilização de combustíveis fósseis, aumentam as emissões de gases causadores do efeito estufa, o que acelera e agrava a mudança climática. As economias da biodiversidade são multifuncionais. A biodiversidade proporciona alimentos, forragens, combustíveis, fibras e medicamentos. A biodiversidade cria cultura. De fato, a diversidade cultural e a biodiversidade seguem de mãos dadas. A biodiversidade é o verdadeiro capital dos indígenas, das comunidades tribais e das sociedades camponesas. As economias da biodiversidade proporcionam todo o necessário para atender as necessidades básicas, desde as vassouras que limpam nossas casas até os remédios que salvam nossas vidas e as sementes que nos dão comida. Conservar a biodiversidade é, portanto, uma agenda contra a pobreza, que é a negação da cobertura das necessidades básicas. É por isso que protegendo e renovando a biodiversidade se reduz a pobreza, se é que riqueza e pobreza são medidas em seus termos reais, não em construções fictícias de crescimento e de Produto Interno Bruto. Por outro lado, sendo a base da verdadeira riqueza, a biodiversidade também é uma fonte de produtividade. As fazendas orgânicas com biodiversidade obtêm duas vezes mais rendimentos e renda para os produtores do que os monocultivos que utilizam produtos químicos. A biodiversidade rejuvenesce a fertilidade do solo e, ao deixar de lado os fertilizantes químicos, nos livra de um dos mais nocivos gases que provocam o efeito estufa, reduzindo o impacto sobre o clima. Navdanya é uma granja orgânica cooperativa ativamente comprometida na renovação da sabedoria e cultura indígenas, em criar consciência sobre os riscos da engenharia genética, em defender os conhecimentos populares contra a biopirataria e em proteger os direitos sobre os alimentos e a água diante da globalização. Nossa pesquisa em Navdanya demonstrou que as fazendas orgânicas com biodiversidade aumentam a absorção do carbono da atmosfera em mais de 50% e a conservação da umidade do solo entre 10% e 20%. A agricultura orgânica com biodiversidade serve para minimizar a mudança climática. Conservando a biodiversidade podemos ter mais alimentos a baixo custo com menos gasto de energia. Ao mesmo tempo em que reduz o impacto climático, a biodiversidade favorece a adaptação ao clima. Os sistemas descentralizados com biodiversidade são mais resistentes diante da mudança climática do que os sistemas centralizados de monoculturas. Diversas variedades de sementes resistentes são necessárias para enfrentar ciclones e furacões. E essas sementes devem estar nas mãos dos agricultores. É por isso que nos em Navdanya começamos a criar bancos de sementes para a mudança climática. A biodiversidade, portanto, nos proporciona uma importante estratégia de adaptação ao caos climático. Mas, a biodiversidade ainda não está no centro da discussão sobre mudança climática. Por outro lado, para enfrentar os problemas se propõem pseudo soluções como a produção de biocombustíveis industriais e comércio de cota de carbono. Os biocombustíveis industriais estão destruindo a biodiversidade e, ao mesmo tempo, contribuindo para o caos climático. Na Índia, as plantações de pinhão manso estão se apropriando de terrenos pertencentes a comunidades locais, deixando estas mais pobres e mais vulneráveis ecologicamente. Na Indonésia, as populações locais estão sendo desarraigadas para expansão das plantações de palmas para biocombustíveis. O milho destinado nos Estados Unidos à produção de biocombustível duplicou seu preço no México, onde é um alimento fundamental. Este é um desastre climático, um desastre para a biodiversidade e um desastre fundamental. Necessitamos colocar a biodiversidade no centro das soluções climáticas. A conservação da biodiversidade protege as diversas espécies que mantêm o tecido da vida no planeta. A conservação da biodiversidade remove a pobreza e sua conservação reduz os riscos de mudança climática. Estas razões ecológicas e econômicas deveriam nos impulsionar a um comprometimento na proteção da biodiversidade onde quer que estejamos e independente do que façamos. (IPS/Envolverde)